Título: Não podemos ser reféns do medo
Autor: Gois, Chico de; Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 03/06/2011, O País, p. 14

Dilma cita pensadores e Lula em lançamento de Plano Brasil sem Miséria

BRASÍLIA. No lançamento do Plano Brasil Sem Miséria, promessa de sua campanha, a presidente Dilma Rousseff destacou a contribuição de sociólogos, pensadores e lideranças que, desde o século XIX, mostraram o problema da fome no país. Entre outros nomes, Dilma fez menções especiais ao sociólogo Betinho, que liderou uma campanha contra a fome na década de 90, e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que colocou em prática o Bolsa Família.

Depois de lembrar nomes como os do abolicionista Joaquim Nabuco e dos sociólogos Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Josué de Castro, Dilma elogiou seu mentor político:

- O Brasil Sem Miséria ecoa a voz, o trabalho e o empenho do presidente Lula, cujo governo tive a alegria de coordenar e de participar. E a honra de suceder-lhe - disse a presidente, observando que, para que o plano dê certo, é necessária a integração entre os governos federal, estaduais e municipais, além da participação da sociedade e da iniciativa privada.

Dilma afirmou que o pobre sempre foi invisível aos olhos do Estado:

- O pobre, no Brasil, foi sempre o grande invisível, o desnecessário, o jamais incluído. Assim como, no passado remoto, muitos olhos ficaram cegos para o grande tráfico negreiro que manchou o Atlântico, outros olhos também estiveram cegos, por décadas e décadas, para milhões de brasileiros que morriam de fome e sede, que se atiravam em caravanas de milhões para o Sudeste ou em multidões ainda mais desesperadas para os seringais do Norte, para as margens da Transamazônica.

A presidente declarou que é dever do Estado localizar os mais pobres e lhes prover formas de sustento. Ela observou que a pobreza levou mais de três séculos para entrar na pauta política do Brasil e que, embora a escravidão tenha sido abolida há muito tempo, a falta de vontade política ultrapassou a escravidão.

- Nós não mais vamos esperar que os pobres corram atrás do Estado brasileiro. O Estado brasileiro deve correr atrás da miséria e dos pobres deste país- discursou.

A presidente destacou, ainda, que o combate à miséria é um passo essencial para o desenvolvimento brasileiro.

- Não aceito o fatalismo de que a pobreza sempre existiu na sociedade. Isso não é realismo, é cinismo. O combate à miséria é uma luta difícil, mas os desafios não me imobilizam, não me tornam refém. Os desafios sempre me levaram adiante. Não podemos ser reféns do medo. Somos reféns do nosso sonho.

O governador Sérgio Cabral lembrou que o lançamento do plano é o cumprimento de uma promessa de campanha de Dilma.