Título: Censura interna é polêmica no PT
Autor: Augusto, Leonardo
Fonte: Correio Braziliense, 09/08/2009, Política, p. 10

Código de Ética em vigor desde o dia 1º veta filiados de prática corriqueira: informar sobre assuntos ¿do partido¿ e ações de colegas

Militantes estão proibidos de trazer a público questões partidárias

Denúncias anônimas e fogo amigo. Se depender do código de ética do PT, em vigor desde o dia 1º, essas duas ¿instituições¿ que fazem parte da vida e da história do partido vão deixar de existir, pelo menos oficialmente. A partir de agora é proibido agir como tantos petistas ilustres, que nos bastidores atiram até mesmo contra colegas do partido integrantes de outras correntes internas, ao passo que em público adotam discurso conciliador.

Três trechos do código põem freio na língua dos petistas. O principal deles é o artigo 6º, que relaciona as proibições aos filiados do partido. Ele diz que é vedado ¿fornecer a órgãos de imprensa informação acerca de fatos pertinentes à vida interna do partido ou às ações de seus filiados, sem se identificar como fonte¿.

No meio jornalístico, a prática de não citar o nome do entrevistado é conhecida como off the records (sem gravação), ou simplesmente informação em off. E foi exatamente assim que filiados ao partido, entre parlamentares, ocupantes e ex-ocupantes de cargos públicos, analisaram a implantação do código e o impacto do texto nas relações entre integrantes de diferentes correntes da legenda. Um petista que se define como independente, mas que já integrou correntes do partido, diz ser lamentável a proibição, já que a prática é comum.

Não é só o artigo 6º do código que impõe censura aos petistas. O artigo 4º, que trata dos direitos e deveres, limita a liberdade de expressão. Proíbe o filiado de ¿se manifestar interna ou publicamente sobre decisões partidárias, doutrinárias ou posições políticas, assegurada a liberdade de pensamento e expressão, vedada a utilização da mídia com a intenção de atingir a honra de outros filiados, a imagem pública do partido ou como instrumento de disputa interna¿.

Já o artigo 3º, que trata dos ¿princípios éticos fundamentais que devem orientar a conduta de todos os filiados¿, frisa a necessidade de ¿supremacia dos interesses partidários sobre interesses particulares, de tendências partidárias, de correntes ou grupos internos¿.

Para outro petista, que só concordou em falar em off ¿ burlando, portanto, o código de ética ¿, é necessário esperar para ver se o código vai mesmo funcionar. Ao mesmo tempo, reclama dos atritos intrapartidários. ¿É nocivo. Divergências devem ser resolvidas no debate franco.¿

Há também quem avalie as proibições como uma ¿bobagem tremenda¿. ¿Não sei para que vai servir. Vão falar como agir com jornalistas em um país no qual nem existe Lei de Imprensa?¿, analisa outro petista. O descumprimento do código pode levar o filiado a responder diante da comissão de ética do partido. As punições vão da simples advertência à expulsão.

Dilma otimista A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, reafirmou ontem o otimismo em relação ao futuro da economia do País. Ela disse que ¿o pior já passou¿ e que o Brasil foi um dos últimos países a entrar na crise e que, com certeza, será um dos primeiros a sair, tendo em vista o compromisso do governo Lula, de não estimular o pânico, como, segundo ela, ocorreu em muitos países de economia desenvolvida. Depois de nova sessão da radioterapia em São Paulo para se recuperar de um câncer linfático, Dilma foi a convidada especial do empresário Sílvio Santos na solenidade de comemoração dos 28 anos do SBT, no Guarujá (SP).