Título: Lá de onde vim, só vale a lei dos madeireiros
Autor: Litaiff, Paula
Fonte: O Globo, 05/06/2011, O País, p. 9
No Amazonas, agricultora que denunciou madeireiros foi espancada três vezes e diz que já pensou em se matar
MANAUS. Há mais de dois anos recebendo ameaças de morte por denunciar crimes ambientais, duas mulheres no Amazonas dizem que deixaram de acreditar nas leis e nas autoridades. Nilcilene Miguel de Lima, de 45 anos, moradora de Lábrea (a 880 quilômetros de Manaus), e Edma Jane Muniz Tavares, de 51 anos, de Manaus, estão entre as 30 pessoas do Amazonas na lista da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de marcados para morrer por madeireiros e grileiros porque não aceitaram as regras impostas por eles.
Espancada três vezes por capangas, Nilcilene disse que já pensou em tirar a própria vida porque receia morrer nas mãos dos funcionários das madeireiras. Natural de Lábrea, agricultora e mãe de cinco filhos, foi ameaçada de morte porque denunciou a retirada ilegal de madeira de lei como cedro e angelim no assentamento Gedeão, do Incra, em 2009.
De lá para cá, a casa dela foi incendiada duas vezes, e ela foi obrigada a sair de Lábrea para viver escondida em casas de amigos e com a proteção de membros da Pastoral da Terra. Apesar de a agricultora ter denunciado as agressões, nem a Polícia Federal nem a Polícia Civil do Amazonas abriram inquérito para apurar o caso.
Na última agressão, no dia 10 do mês passado, dois capangas de madeireiros espancaram tanto Nilcilene que ela ficou surda do ouvido direito. Ela fez exame de corpo delito no Instituto Medico Legal e registrou o caso na Delegacia de Lábrea. Até hoje os homens não foram encontrados.
Hoje, ela vive com medo e sem proteção.
- Já pensei em me matar, porque nunca recebi apoio de ninguém e não vou aceitar ser assassinada pelos jagunços dos madeireiros. Não acredito mais em lei nem em governo nem em ninguém. No lugar lá de onde vim, só o que vale é a lei dos madeireiros - diz, aos prantos.