Título: Aliados: explicações de Palocci não esfriam crise
Autor: Jungblut, Cristiane; Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 05/06/2011, O País, p. 17

Integrantes de PT e PMDB avaliam que situação de ministro continua frágil após entrevista; Temer decide defendê-lo

BRASÍLIA. As explicações do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, ainda que bem-vindas, não são suficientes para esfriar a crise e garantir sua permanência no cargo, avaliam integrantes do PT e do PMDB, os dois principais partidos da base governista. No entanto, capitaneado pelo vice-presidente Michel Temer, o PMDB adotou uma nova postura: defender o governo e Palocci. A estratégia visa mostrar solidariedade à presidente Dilma Rousseff e somar pontos, fazendo um contraponto ao PT, do qual partem cobranças mais contundentes de explicações e até afastamento do chefe da Casa Civil.

Contribuiu para o clima de cautela com a situação de Palocci a reportagem da revista ¿Veja¿ que revela que uma empresa de fachada, de propriedade de laranjas, é a dona do apartamento onde Palocci mora, em São Paulo. Embora tentassem ontem manter um discurso apaziguador, elogiando o desempenho do ministro na entrevista de sexta-feira à TV Globo, líderes petistas e peemedebistas reconheceram que continuavam frágeis as condições políticas de Palocci.

Após a gravação, o ministro telefonou pessoalmente, ou por intermédio de assessores, para caciques das duas legendas, além de falar com a presidente Dilma Rousseff e com Temer. A vontade de se explicar, porém, parece tardia para a maior parte dos aliados.

¿ Palocci manteve a temperatura ¿ disse um petista. ¿ Ele não explicou, mas também não se comprometeu. Tinha nota 5 e continua com 5.

Permanece como ingrediente a mais da instabilidade do ministro a insatisfação generalizada da base com a articulação política do governo no Congresso. Palocci é considerado até dentro de seu partido um articulador arrogante.

Na avaliação geral, compartilhada pelo Palácio do Planalto, a entrevista não atenuou a crise, por terem faltado respostas cabais sobre os clientes, as atividades e o faturamento da consultoria do ministro.

O governador petista de Sergipe, Marcelo Déda, que cobrara explicações públicas de Palocci na antevéspera, disse que falar à sociedade foi um ¿gesto importante¿, especialmente porque o ministro deixou claro que ¿a questão não é de governo¿. Mas admitiu:

¿ Há um debate político, e as pessoas não têm controle se o gesto terá o poder de resolver a situação. É legítimo que o partido se preocupe com a repercussão da crise.

O PT espera agora o parecer do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a quem Palocci encaminhou toda a documentação referente à atuação da sua empresa de consultoria. Caberá a Gurgel decidir se há ou não evidências de tráfico de influência.

¿ Se não houver abertura de inquérito, não tem como Palocci cair ¿ disse um petista.