Título: Dilma exige que ministro se explique
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 03/06/2011, O País, p. 3

Segundo Gilberto Carvalho, situação de Palocci é delicada e ele falará "brevemente"

Luiza Damé, Chico de Gois e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. No Planalto, a situação do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, está se deteriorando. A presidente Dilma Rousseff exigiu que Palocci dê explicações públicas e definitivas sobre a evolução de seu patrimônio. O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que defendeu Palocci desde as primeiras denúncias, reconheceu ontem que a situação do colega é delicada, mas disse que ele continua firme no cargo. Seguindo a determinação da presidente, Palocci irá se explicar, mas ainda não foram definidos o formato nem o dia de seu pronunciamento. A expectativa no governo, no PT e entre os partidos aliados é que Palocci fale ainda hoje.

- Ele vai fazer explicações públicas. Está tudo acertado. Ele vai falar muito brevemente. Não posso dizer que é hoje (ontem), porque não deve ser hoje (ontem). Ele está escolhendo a forma - disse Gilberto, depois do lançamento do Plano Brasil sem Miséria, no Planalto.

Segundo Carvalho, a presidente mandou o ministro dar explicações públicas sobre as denúncias envolvendo a evolução de seu patrimônio. No ano passado, a empresa de Palocci, Projeto Consultoria, teria faturado R$20 milhões. Mesmo depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter sugerido que ele fosse a público apresentar sua posição, Palocci vinha resistindo a dar explicações em público. Carvalho confirmou que não só Lula, mas todos no governo vem defendendo a fala pública de Palocci:

- Ela (Dilma) não pediu para esperar passar essa crise. Ela falou com ele que era importante que ele falasse. Isso foi o que ela falou. Todos nós temos falado. Ele está aguardando o momento adequado.

Perguntado se a situação do ministro é delicada, Carvalho concordou:

- É, mas continua firme. Ele está tendo um aspecto firme, firme. A presença dele aqui (na cerimônia do Planalto) retrata isso.

Coordenador do governo, no lançamento do Brasil sem Miséria, Palocci ficou na ala das principais autoridades, ao lado do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e foi citado por Dilma no discurso, mas não sentou ao lado da presidente, como de costume, e foi figura apagada no evento mais movimentado e festejado do governo.

E não demonstrou disposição de enfrentar a imprensa para se explicar. No fim do evento, o ministro desapareceu para não dar entrevista. Saiu por trás da rampa em vez de subi-la, como é praxe. A Casa Civil negou que Palocci tenha saído escondido.

Na cerimônia, aliados do governo concordaram que já era para ele ter dado explicações, porque a crise começa a afetar o governo. Uma paralisia que Dilma tentou evitar com o lançamento do Brasil sem Miséria, plano para erradicar a extrema pobreza.

A avaliação entre políticos é que Palocci precisa falar à sociedade até este fim de semana. Depois, segundo um interlocutor do governo, será difícil controlar os aliados. Integrantes do governo, apesar dos discursos em contrário, reclamaram de paralisia, já que muitas coisas dependem da Casa Civil.

Para Carvalho, o lançamento do plano contra a miséria é uma demonstração de que o governo está ativo:

- O evento mostra que o governo não parou. Projetos como este e outros vão continuar. A crise para nós tem peso, importância, mas é muito relativa. O importante é o que está acontecendo. A ordem da presidente é que a gente continue trabalhando. As crises são importantes, a gente enfrenta com maturidade, muitas vezes com dificuldades, mas não perdemos nosso norte. Prova disso é o que apresentamos aqui.

Carvalho disse que Palocci não deverá esperar a decisão do procurador geral da República, Roberto Gurgel, para dar explicações públicas sobre sua situação. Gurgel disse que não anunciará sua decisão nesta semana:

- Não será nesta semana. Jamais antecipei qualquer posição. Nunca me manifestei se iria arquivar ou não.