Título: Analistas esperam crescimento mais moderado no ano, entre 3,6% e 4,7%
Autor: Ribeiro, Fabiana ; Spitz, Clarice
Fonte: O Globo, 04/06/2011, Economia, p. 33

PISADA NO FREIO: Demanda interna continuará perdendo fôlego, alertam

Efeitos das medidas de restrição ao crédito e do juro maior ainda serão sentidos

Com o crescimento do PIB forte, mas dentro das expectativas no trimestre, a maioria dos bancos e corretoras manteve as previsões para que o país feche o ano com expansão entre 3,6% e 4,7%. Analistas esperam que a economia brasileira experimente, ao longo do ano, uma desaceleração, ainda fruto das medidas de restrição de crédito, de um lado, e da elevação de taxa de juros (Selic), de outro.

- Estamos caminhando para um cenário de crescimento mais moderado. As medidas macroprudenciais, junto com as medidas fiscais e os juros, estão contribuindo para isso - afirmou o economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, citando dados já divulgados no segundo trimestre, como contração da indústria mais forte do que se esperava em abril.

A produção industrial recuou 2,1% sobre março, maior queda desde dezembro de 2008.

Para a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, os maiores responsáveis pelo freio na economia daqui para frente serão os juros. Seus efeitos são sentidos com defasagem - a última alta ocorreu em março -, e seus reflexos na atividade devem ser vistos no segundo semestre. A consultoria espera que a Taxa Selic, hoje em 12% ao ano, termine 2011 em 13%.

- O PIB bastante forte na margem está a um ritmo que não é sustentável. Nossa economia pode crescer em torno de 4% sem riscos - diz Alessandra.

A MB Associados diminuiu a taxa projetada de 4,5% para 4,2%. A manutenção das outras expectativas, no entanto, não ocorreu sem algumas surpresas. Para a economista-chefe da corretora Votorantim, Adriana Dupita, o crescimento dos investimentos, medidos pela formação bruta de capital fixo, foi inferior ao previsto.

- O crescimento dos investimentos foi forte (1,2%), mas mais fraco do que esperávamos (5%), considerando os indicadores antecedentes de produção e importação de bens de capital até março - diz Adriana, cuja projeção acertou em cheio a variação para o primeiro trimestre (1,3%).

A projeção da corretora para o PIB do ano se manteve em 4,3%.

Inflação reduziu poder de compra, ressalta especialista

Os dados de consumo de bens de capital e produção de insumos da construção civil mostram que há chance de queda dos investimentos no segundo trimestre, a depender do desempenho de maio e junho, na opinião de Adriana.

A taxa mais fraca de crescimento do consumo das famílias no primeiro trimestre gera controvérsias entre os analistas. O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, diz que esse indicador revela uma tendência de desaceleração do PIB nos próximos trimestres. Para ele, essa desaceleração se deve, em grande parte, à alta dos juros, e, em menor escala, às medidas de restrição ao crédito.

- Quando se olha o número fechado de alta de 1,3% do PIB, a sensação que se tem é que a economia está bombando. Quando você esmiúça os dados, é possível notar que não é bem assim. A demanda interna, que soma consumo das famílias, governo, investimentos e exclui estoques, mostra que houve desaceleração - afirma Leal.

Já Cristiano Souza, economista do banco Santander, evita classificar a variação do consumo como desaceleração, lembrando que a inflação reduziu o poder de compra dos trabalhadores. Mas, no segundo semestre, diz, a tendência é haver reajustes salariais acima da inflação. O Santander mantém a previsão de 3,7% para a expansão do PIB deste ano.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, uma das poucas a revisar projeções, explica que a redução se deveu à expectativa de menos investimentos no segundo trimestre, bem como a uma geração de riqueza mais fraca na indústria e no setor de intermediação financeira, impactados pelas medidas de restrição ao crédito e juros altos.

Já para 2012, boa parte dos analistas espera um crescimento mais robusto ou muito similar ao de 2011. O economista-chefe do Citi Brasil, Marcelo Kfoury, projeta alta de 4,5% no PIB em 2012 e de 4% este ano.

- Deve haver menos arrocho fiscal e monetário e crescimento mais forte do PIB potencial, mas ainda é difícil prever - afirma.

- A tendência é termos uma política fiscal menos restritiva - concorda Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco.