Título: Juros altos estimulam o calote
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 09/08/2009, Economia, p. 17

As instituições financeiras resistem em repassar aos consumidores a redução da taxa básica para as diferentes operações de crédito.

A queda vertiginosa da taxa Selic nos últimos seis meses ¿ a taxa básica de juros baixou de 13,75%, em janeiro, para 8,75% em julho ¿ praticamente não beneficiou o cliente bancário. As instituições financeiras resistem em reduzir, na mesma magnitude, a taxa de juros de várias operações de crédito. Levantamento feito pelo Correio em cima dos dados divulgados pelo Banco Central constatou que apenas no crédito pessoal a taxa baixou exatos cinco pontos percentuais. A maior taxa, que era de 25,44% ao mês, em janeiro, caiu para 20,44% ao mês em julho. O banco que cobra essa taxa absurdamente alta dos seus clientes é o Crefisa S.A.

Em outras operações de crédito a taxa até caiu, mas não na mesma proporção. Um exemplo é o cheque especial. A maior taxa, cobrada pelo Banco Schahin em janeiro, era de 10,13% ao mês. Em julho, a maior taxa do cheque especial foi a cobrada pelo Banco Rendimento, de 9,05% ao mês. A variação entre uma e outra foi de 1,08 ponto percentual. No financiamento para aquisição de bens, a situação se repete. A maior taxa, cobrada pela financeira do Itaucred , de 11,15% ao mês em janeiro caiu para 8,85% ao mês em julho. Essa foi a taxa informada ao BC pela financeira do Unibanco.

Por incrível que pareça, nesse cenário de taxas em queda dos últimos meses, existem operações com garantia que até apresentaram elevação. É o caso do financiamento de veículos. Em janeiro, a taxa mais elevada desse tipo de operação era a cobrada pelo desconhecido Banco Barigui, de 5,27% ao mês. Em julho, a taxa para esse tipo de financiamento no Banco Azteca era de 7,36% ao mês. Em seis meses, o crédito para veículos ficou mais caro 2,09 pontos percentuais. É bom não esquecer que, durante esse período, o governo reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para incentivar as vendas e que esse tipo de crédito tem garantia real. O banco fica com o veículo quando o consumidor não paga.

Segundo o economista Gustavo Loyola, da Tendências Consultoria, o que leva os bancos a manterem a taxa de juros em patamares elevados é o aumento da inadimplência. ¿Embora, no momento, a inadimplência dê sinais de que vai cair, ela subiu nos últimos meses¿, observou. Pelos dados do Banco Central, o índice de inadimplência das pessoas físicas bateu em 8,6% em junho. É o percentual mais elevado dos últimos anos.

Loyola explicou que é normal o sistema financeiro andar atrás do Banco Central. ¿Primeiro, o Banco Central derruba os juros. Depois, o spread vai atrás¿, disse. Para o economista, a taxa que vai cair primeiro para o consumidor é a das operações vinculadas à aquisição de bens, além do crédito pessoal. A taxa de juros do cheque especial não deve se mover rapidamente. ¿É um tipo de crédito mais arriscado. A taxa é alta porque os bancos já sabem que quem vive no cheque especial está em dificuldade. Esse cliente, provavelmente, já esgotou sua capacidade de financiamento em outras linhas mais baratas¿, avaliou.

De acordo com Loyola, o cheque especial é um bom indicador para quem quer saber a tendência dos juros e da inadimplência no mercado. ¿Toda vez que cresce a utilização do cheque especial é sinal de que a inadimplência vai aumentar¿, disse. O economista explicou que é a escassez de crédito mais barato que leva os clientes bancários ao cheque especial. Por outro lado, essa é a operação que envolve mais risco para o banco ¿ por isso é tão cara ¿ e também para o cliente. Como a taxa é elevada, ele dificilmente conseguirá quitar o débito.

Para o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, a taxa Selic não é a base de comparação adequada. ¿Embora seja uma taxa anualizada, ela é de operações de um dia¿, ponderou.

Toda vez que cresce a utilização do cheque especial é sinal de que a inadimplência vai aumentar

Gustavo Loyola, economista da Tendências Consultoria

Caixa aumenta taxa do crediário

Nem mesmo os bancos oficiais, como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, que recebem cobranças públicas quase que diárias do presidente Lula, baixaram a taxa de juros na mesma velocidade da taxa Selic. Nas quatro operações listadas pelo Banco Central ¿ cheque especial, crédito pessoal, aquisição de veículos e aquisição de bens ¿, a queda de juros em seis meses fica, em média, em torno de 0,5 ponto percentual nessas instituições. Em uma das linhas, inclusive, o Banco Central registrou elevação da taxa de juros. Em aquisição de bens, os juros cobrados pela Caixa em janeiro eram de 1,92%, passando para 4,68% ao mês em julho, um aumento de 2,76 pontos percentuais. A explicação da Caixa para o aumento é que se trata de linhas diferentes. A taxa captada pelo BC em janeiro era de uma linha ofertada em balcão, ou seja, nas agências da Caixa. A nova linha, mais cara, é a do crediário via rede de lojistas credenciados. (VC)