Título: Peru: para Brasil, um foco pragmático
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 04/06/2011, O Mundo, p. 42

Pouco deve mudar na relação bilateral, seja o vencedor Humala ou Keiko

BRASÍLIA. Mais pragmática que seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, nas relações bilaterais, a presidente Dilma Rousseff está mais interessada na agenda de interesses entre Brasil e Peru do que em quem vencerá a eleição de amanhã no país andino: se o esquerdista Ollanta Humala ou a centro-direita de Keiko Fujimori, filha do ex-ditador peruano Alberto Fujimori, condenado a 25 anos de prisão, em 2009, por violações dos direitos humanos.

Segundo pessoas próximas à presidente, a proximidade ideológica entre Dilma e Humala pesa menos do que a decisão política de continuar estreitando as relações econômico-comerciais. Os grandes destaques são as áreas de energia, petróleo, gás e infraestrutura em geral.

Nos bastidores, a avaliação é de que o programa de campanha de Humala, pautado pela transferência de renda e a implementação de projetos sociais, assemelha-se mais às diretrizes adotadas no Brasil desde o governo Lula até hoje. No entanto, a agenda de interesses entre Brasil e Peru ultrapassa qualquer tipo de ideologia.

- Não temos passivo com o Peru. Ao contrário, temos interesses em comum - disse um experiente embaixador.

O professor Antonio Celso Alves Pereira, da cadeira de Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio de Janeiro, contudo, acredita que seria mais fácil para Humala do que para Keiko se relacionar com o governo Dilma. Ele lembrou que, se por um lado Alan García conseguiu que o país passasse a crescer economicamente, pouco foi feito pelo social.

- Humala defende abertamente maior aproximação com o Brasil, enquanto evita demonstrar sua ligação com o presidente venezuelano, Hugo Chávez - disse Pereira.

João Paulo Peixoto, cientista político da Universidade de Brasília, já não crê que Dilma esteja ideologicamente próxima a Humala. E diz por quê:

- Você imaginaria, um dia, Dilma privatizando? Vai privatizar três, quem sabe, cinco no total, aeroportos brasileiros. Ela rompeu com o imobilismo do PT nessa área - afirmou Peixoto.

No caso da vitória de Keiko, o analista acredita que um de seus principais desafios é conseguir melhorar a imagem do país junto à comunidade internacional. A candidata defende a abertura do mercado para o ingresso de capitais estrangeiros, numa política permeada pelo liberalismo.

Ele lembrou que, na próxima segunda-feira, estará em Brasília Hugo Chávez.

- Certamente, o atual governo brasileiro não corrobora a política de aproximação entre Humala e Chávez. Sob esse aspecto, Keiko pode trazer mais vantagens - comentou o especialista.