Título: Teve até incidente diplomático
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 02/06/2011, Economia, p. 22
Dilma foi a grande fiadora do projeto
BRASÍLIA. O licenciamento de Belo Monte encerra um longo período de disputas políticas e judiciais, que teve até um incidente diplomático por conta de sua construção em área histórica para os movimentos indígena e ambientalista. Mais de dez ações de grande repercussão foram impetradas desde 2001 contra o empreendimento, numa batalha incentivada por grupos da sociedade civil e levada a campo pelo Ministério Público Federal (MPF).
O questionamento sobre a responsabilidade socioambiental de Belo Monte não só provocou trocas de ameaças entre o MPF e a Advocacia Geral da União (AGU) como chegou à esfera internacional. No início de abril, usando como base uma petição de cerca de 40 ONGs, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) pediu às autoridades brasileiras a suspensão do projeto de construção da usina.
Hoje presidente da República, a então ministra de Minas e Energia e, posteriormente, da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi a grande fiadora do projeto no governo Lula. A defesa intransigente das usinas na Região Amazônica fez de Dilma a antagonista da ex-senadora Marina Silva, que acabou saindo do Ministério do Meio Ambiente e do PT.
Tão polêmico quanto a modelagem da usina foi o leilão de Belo Monte, em 20 de abril de 2010. Considerando o projeto uma questão de honra, mas assombrado por uma rebelião das grandes construtoras e pela desconfiança sobre o custo da obra, o Palácio do Planalto recrutou empresas amigas para formar um consórcio. E ordenou às estatais que reduzissem a taxa de retorno do negócio para garantir uma tarifa baixa e a vitória de um grupo aliado.