Título: Palocci usa reunião do Conselho Político para pedir apoio a aliados
Autor: Lima, Maria; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 02/06/2011, O País, p. 4

CRISE NO GOVERNO

Governo apresentou linhas gerais do Brasil Sem Miséria, que será lançado hoje

BRASÍLIA. Sem voz na reunião do Conselho Político em que a presidente Dilma Rousseff detalhou o Plano Brasil Sem Miséria, o chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci, usou o encontro para, em conversas reservadas e paralelas, pedir apoio contra os ataques que vem sofrendo da oposição e, sobretudo, de seu partido, o PT, que engrossou as cobranças nos últimos dias. Segundo presentes, Palocci passou toda a reunião calado, mas nos intervalos marcou almoços e pediu apoios. E revelou desconforto com as críticas que partem do PT. O Conselho Político reúne presidentes e líderes de partidos da base governista.

Palocci arrumou tempo na agenda ontem para almoçar com o líder do PR, senador Magno Malta (ES), um dos mais irritados por não ter sido recebido até agora pelo ministro, a quem chamou de "playboy".

- Me ajude lá no Congresso! - pediu Palocci ao abordar um dos líderes.

- Se você conseguir se defender do PT, o resto a gente segura - respondeu o líder.

- Eu não consigo! Me ajude lá - respondeu Palocci, segurando as mãos do líder.

No Senado, Gleisi Hoffmann (PT-PR) negou que tenha, durante almoço em sua residência semana passada com o ex-presidente Lula, sugerido que Palocci saísse do governo. Mas confirmou que pediu explicações de Palocci, porque o processo está prejudicando o governo:

- Foi uma reunião fechada em que defendi que tivéssemos todos os esclarecimentos da situação, em razão de ser um fato pessoal que está prejudicando o governo. Não defendi a saída de Palocci. Eu confio que ele vai dar todos os esclarecimentos aos órgãos competentes.

Líder do PMDB pede mais atenção ao Nordeste

Os líderes presentes na reunião do Conselho Político relataram que a presidente Dilma Rousseff estava ontem diferente, e passou o tempo todo ouvindo e anotando as muitas reclamações. O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), cobrou uma promessa de Dilma de duplicar a metade da malha das estradas federais, quando aprovaram o trem-bala.

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), reclamou da falta de atenção de Dilma ao Nordeste. E pediu que ela lançasse o Brasil Sem Miséria na região, para não perder o espaço conquistado lá por Lula.

- A maior população carente, alvo do Brasil Sem Miséria, está no Nordeste e o plano tem que ser lançado lá. O presidente Lula tem forte penetração no Nordeste e a presidente Dilma não pode perder isso - disse Henrique Alves.

O líder do PRB, senador Marcelo Crivella (RJ), pediu isenção de IPI para surdos e reclamou da polêmica do chamado kit anti-homofobia.

- O governo administrou pessimamente a crise do kit gay e isso não pode mais acontecer. No segundo turno (das eleições presidenciais), o apoio dos evangélicos foi fundamental e agora não conseguimos falar com a senhora! E, com a retirada do kit, ficou parecendo que a senhora recuou por causa do Palocci - disse Crivella.

Na reunião do Conselho Político, que reuniu 39 representantes dos partidos aliados, a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, apresentou o diagnóstico da pobreza no país e as linhas gerais do Brasil Sem Miséria, que será lançado hoje pela presidente.

O programa vai atuar em três eixos, reunindo ações de vários ministérios: garantia de renda, acesso aos serviços públicos e inclusão produtiva. Tudo para elevar a renda per capita e aumentar o bem-estar.

O plano será lançado em uma solenidade no Planalto, para a qual são esperadas cerca de 800 pessoas. Foram convidados todos os ministros, governadores, prefeitos das capitais, parlamentares, empresários e líderes de movimentos sociais e sindicais.

Na campanha, a presidente prometeu erradicar a miséria no país até 2014. O diagnóstico do governo é que 16,2 milhões de pessoas ainda vivem na extrema pobreza. Desse total, 59% estão no Nordeste e a maior parte vive no campo.