Título: Chávez faz diplomacia
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 09/08/2009, Mundo, p. 24

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, vai desembarcar em Quito como porta-voz de um pedido dos Colombianos pela Paz, um grupo de representantes da sociedade civil e da intelectualidade: que a Unasul aprove uma resolução pedindo ao presidente Álvaro Uribe a solução pacífica do conflito armado no país. A solicitação foi feita a Chávez na manhã de ontem pela senadora colombiana Piedad Córdoba, durante encontro no Palácio de Miraflores. Na véspera, a delegação do grupo havia obtido de Chávez a ordem para que retorne a Bogotá o embaixador venezuelano, Gustavo Márquez, retirado há 10 dias em meio à crise provocada pelas denúncias de Uribe de que a Venezuela teria repassado para as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) armas suecas adquiridas legalmente.

Chávez ponderou que as resoluções da Unasul passam por ¿um caminho burocrático longo¿, mas comprometeu-se a levar a questão para a cúpula da Unasul. Na véspera, ao decidir pelo reenvio do embaixador a Bogotá, ele assumiu como ¿política de Estado¿ a busca de uma solução negociada para 45 anos de luta entre o Estado colombiano e as Farc. ¿Estou disposto a recuperar o discurso pela paz na Colômbia¿, disse o presidente venezuelano. ¿Às vezes, por respeito à Colômbia, nos eximimos de tocar nesse tema em cúpulas e outras reuniões, mas não acho que seja um desrespeito se o que queremos é a paz.¿ Piedad Córdoba coincidiu em afirmar que o conflito colombiano ¿pode se tornar incontível e inundar a região¿.

Os Colombianos pela Paz receberam no início do mês uma carta aberta na qual o alto comando das Farc propõe à oposição civil uma frente comum, visando à eleição presidencial de 2010, para ¿construir uma alternativa política que privilegie a paz, convoque ao diálogo, instrumentalize uma trégua bilateral e proceda a suspender de imediato a presença de tropas americanas em nosso país¿. Chávez voltou a relacionar ontem o conflito colombiano e a cessão de bases para operações militares americanas, e propôs a Piedad Córdoba, como resposta, um movimento da sociedade civil por negociações. ¿Se na Colômbia eles (os EUA) abrem sete bases (militares), aqui abrimos 70 bases de paz¿, desafiou, para em seguida propor que se instalem ¿acampamentos pela paz¿ não apenas na Colômbia e Venezuela, mas ¿até na Bolívia, no Equador e no Brasil¿.

Intriga na selva

O governo colombiano anunciou há duas semanas que um lote de armas antitanques apreendido em 2008 com as Farc tinha sido vendido pela Suécia à Venezuela, suspeita de ter desviado os foguetes para a guerrilha. Chávez chamou de ¿irresponsável¿ o colega Álvaro Uribe e congelou as relações, denunciando uma ¿montagem¿ para justificar o acordo militar com os EUA. Segundo Chávez, que citou um documento militar colombiano, as armas teriam sido roubadas pelas Farc em 1995, três anos antes de ele chegar ao poder.

Dia de superstar

» Amanhã será um dia importante para o anfitrião da cúpula. Aproveitando os holofotes atraídos pelos demais líderes da Unasul ¿ e pelo conflito diplomático sobre as bases na Colômbia ¿, Rafael Correa vai assumir a presidência rotativa do grupo, festejar o bicentenário da independência do Equador e tomar posse para o segundo mandato como presidente. A ¿convergência¿ das datas foi premeditada: em junho, Correa pediu para que a colega chilena, Michelle Bachelet, então presidente em exercício da Unasul, abrisse mão de sediar a cúpula em Viña del Mar, em 6 de julho, para realizá-la um mês depois, em Quito. A expectativa é de que Correa aproveite a atenção da região para reforçar a promessa de ¿radicalizar a revolução¿, o que incluiria a expropriação de terras improdutivas e o enfrentamento com as multinacionais petroleiras. O mandatário equatoriano ostenta popularidade superior a 50%, apesar das denúncias de que seu governo teria relações com a guerrilha colombiana.