Título: Indicadores apontam PIB mais fraco
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 07/06/2011, Economia, p. 26

Analistas apostam em desaceleração em diversos setores da produção

Os dados mais recentes da economia brasileira indicam que há uma desaceleração no ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no Brasil). Para alguns economistas, o avanço do PIB no segundo trimestre pode ter a metade do ritmo registrado nos primeiros três meses do ano, que foi de 1,3% sobre o quarto trimestre de 2010. Essa freada auxilia o Banco Central em sua política de controlar a inflação.

Os chamados indicadores antecedentes - dados setoriais que servem de termômetro da economia - mostram forte desaceleração e até queda. Esse é o caso, por exemplo, da produção brasileira de papelão ondulado, utilizado em embalagens, que em abril caiu 5,91% em relação ao registrado em março. Nos quatro primeiros meses do ano, a produção está 0,08% menor do que no mesmo período de 2010, segundo a Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO). A produção industrial, medida pelo IBGE, caiu em abril 2,1% em relação a março, após alta de 3,3% no primeiro trimestre.

Outros dados, contudo, apontam crescimento, mas em ritmo menor. A movimentação de caminhões em estradas com pedágio, por exemplo, cresceu 0,2% em abril em relação ao mês anterior, contra alta de 0,3% em março. Segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), o volume total de veículos nessas rodovias cresceu 0,5% em abril, contra alta de 1,5% no mês anterior. A concessão de empréstimos, segundo o BC, continua crescendo, mas em ritmo menor. A autoridade monetária classificou a atual trajetória de "expansão moderada", e muitos acreditam que, no ano, o crédito crescerá em torno de 14%, contra expansão de mais de 20% registrada nos quatro primeiros meses.

- Acreditamos que o crescimento do segundo trimestre deve ocorrer com a metade do ritmo do primeiro trimestre - disse Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora.

Ele estima que a expansão do PIB no segundo trimestre será de 0,72%, contra o 1,3% dos três primeiros meses do ano. No terceiro trimestre, acredita que a tendência é de uma desaceleração ainda maior: 0,4%, para ganhar fôlego no fim do ano, quando a expansão poderá ficar em 1,02%. Se for assim, o crescimento da economia brasileira ficaria em 3,59% no ano.

Para Rafael Baccioti, analista da Tendências, o cenário para a produção industrial é bem mais fraco que no segundo trimestre, com queda de 0,3% sobre os três primeiros meses do ano.

- As categorias de bens de capitais e duráveis, que puxaram o primeiro trimestre, já tiveram arrefecimento em abril. A confiança do consumidor medida pela FGV recuou pelo terceiro mês consecutivo, o que aponta desaceleração do comércio - diz Baccioti, que afirma que o cenário fraco da atividade não favorecerá uma reposição salarial tão forte quanto a de 2010.

Já a MB Associados trabalha com a previsão de que a indústria seja responsável por uma desaceleração considerável do PIB do segundo trimestre. A consultoria revisou para baixo suas projeções do PIB para o trimestre corrente, de 1,7% para 1,1%. Para o ano, estima que a expansão do PIB fique em 4,2%, abaixo dos 4,5% de antes.