Título: Meu pai arrisca a vida todo dia
Autor: Costa, Ana Cláudia
Fonte: O Globo, 07/06/2011, Rio, p. 17

Famílias fazem romaria a quartel de amotinados

Uma romaria de crianças, jovens e mulheres passam o dia em busca de notícias ontem no quartel do Corpo de Bombeiros em Gragoatá, em Niterói, onde estão presos os manifestantes que invadiram o Quartel Central da corporação. Com apenas 12 anos, a filha do cabo Evandro da Silva, Sandy, vive o trauma de ver o pai ¿ o herói da família ¿ fora de casa. E preso.

¿ Eu sinto raiva. Meu pai arrisca a vida todo dia para salvar gente que ele nem conhece. E agora é tratado como bandido.

Para parentes que visitam diariamente os bombeiros detidos, a ação policial atingiu a auto-estima da categoria e abalou de 439 famílias.

¿ O problema é em casa. Como você explica a um filho de cinco anos que o pai está preso? Ele diz que o pai não é bandido, é bombeiro. E chora o tempo todo. A família toda sofre ¿ desabafa a dona de casa Ana Cláudia dos Santos, de 44 anos.

Sua rotina foi totalmente alterada. Agora, após cuidar dos três filhos, Ana segue para a unidade, para visitar o marido. O caminho de casa, em Magalhães Bastos, a Niterói é dramático:

¿ Vim chorando no ônibus. Nunca imaginei que, um dia, visitaria meu marido preso. Isso está acabando com a gente. Eu nem durmo mais. Amanhã, vou trazer meus filhos. Eles precisam ver o pai ¿ desabafa Ana.

A dona de casa Fabiana Corrêa, 29 anos, acha que o marido está sendo injustiçado:

¿ Ele é um herói e está sendo tratado como bandido. Meu filho de 2 anos acorda de madrugada gritando o nome do pai. E já está até com bronquite, porque não se alimenta direito. Minha filha de 12 anos, chorou muito ontem. Ela estava muito nervosa, sentindo falta dele e com raiva da injustiça. É um desespero. Até meu caçula, de dez meses, tem chorado estes dias. Todos sentimos muita saudade. Essa injustiça tem que acabar.