Título: Aperto monetário precisa continuar
Autor:
Fonte: O Globo, 07/06/2011, Opinião, p. 6

O Comitê de Política Monetária (Copom) define amanhã o patamar das taxas básicas de juros que vão vigorar na economia brasileira pelos próximos 45 dias. A expectativa predominante no mercado financeiro é que o aperto monetário prosseguirá, pois existem razões objetivas para tal. Embora seja provável que os índices de inflação deem alguma trégua, devido à contribuição dos preços dos alimentos (os bons resultados das safras estão chegando agora à mesa dos consumidores), vários outros fatores que podem impulsioná-los para cima continuam latentes.

Os números sobre a trajetória do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, contabilizados pelo IBGE, mostram que a economia brasileira já vem crescendo a um ritmo mais moderado. A expansão do consumo das famílias, por exemplo, evoluiu 0,6% sobre o trimestre anterior, variação que há muito tempo não se observava - oscilações mais próximas de 2% tinham se tornado habituais. Essa moderação, porém, não será suficiente para desaquecer o mercado de trabalho, haja vista a pauta de reivindicações apresentadas pelos sindicatos que representam categorias profissionais favorecidas pela escassez conjuntural de mão de obra. São reivindicações mais típicas da época da inflação aguda e não de uma economia com relativa estabilidade monetária.

O país não conseguiu se livrar de todos os mecanismos de indexação automática que existiam antes do real e, por isso, qualquer repique inflacionário é sempre perigoso, com o risco de a alta de preços voltar a se autoalimentar. É o que vem ocorrendo no setor de serviços.

Infelizmente a interrupção desse círculo vicioso somente é possível com um aperto monetário que desencoraje os agentes econômicos a continuar na corrida por reajustes de preços e salários.

Além do aumento de renda, em especial da massa salarial, a demanda por bens e serviços sofre a pressão do crédito, e a forma clássica de contê-la é o encarecimento do financiamento ao consumo. A elevação das taxas básicas em uma economia que convive com juros tão altos sem dúvida não é uma medida agradável e que conte com a simpatia de produtores, comerciantes e consumidores. No entanto, a taxa de juros é o instrumento de política monetária que mais rapidamente ataca a inflação.

É claro que a taxa de juros não é o único instrumento de política monetária, e nem é recomendável que o combate à inflação se faça apenas pela via da inibição do crédito. Da política fiscal se espera forte contribuição, até porque o consumo do setor público foi um dos fatores que pressionaram excessivamente a demanda por bens e serviços em 2010 e início de 2011. A contribuição da política fiscal precisa ser persistente, não se resumindo a poucos meses. Resultados como o superávit primário registrado em abril precisam se repetir no decorrer de 2011, o que permitirá que, mais à frente, o aperto monetário seja atenuado. Mas essa fase ainda não chegou, e o Copom provavelmente amanhã manterá o aperto.