Título: Novo tratado climático atrasado
Autor:
Fonte: O Globo, 08/06/2011, Ciência, p. 34
Reunião da ONU não chega a acordo para substituir Kioto
BERLIM. Depois dos dados sombrios divulgados pela Agência Internacional de Energia (AIE) de que as emissões dos gases de efeito de estufa atingiram níveis recordes em 2010, a luta internacional para a redução dessas emissões sofreu um novo retrocesso. Como constatou a Secretária Executiva da UNFCC (Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), Christiana Figueres, o novo tratado do clima que deverá substituir o acordo de Kioto não poderá ser assinado na Conferência de Durban, na África do Sul, a COP17, em novembro próximo.
Em Bonn, sede da UNFCC, negociadores de 183 países discutem desde a última segunda-feira a arquitetura do novo acordo. Mas Christiana Figueres admitiu que mesmo que todos manifestem disposição política máxima para fechar Kioto 2, como o próximo acordo vem sendo chamado, o tempo não seria bastante para que fosse ratificado pelos signatários e entrasse em vigor até o inicio de 2013. Decisão tomada na COP16, em Cancún, no ano passado, era de que medidas fossem tomadas urgentemente para que o aumento da temperatura global não ultrapassasse 2 graus Celsius ¿ limite além do qual já se registrarão danos muito severos, como o desaparecimento de países insulares. Estudos já mostram que, sem acordo, não há mais chance de manter a elevação da temperatura nesse patamar.
De acordo com Christiana Figueres, os países participantes têm ¿altas expectativas para alcançar progressos significativos¿ e mesmo que haja uma lacuna entre o fim da validade de Kioto 1 e entrada em vigor de Kioto 2, os países participantes deveriam unir os esforços para traçar nas negociações de Bonn, as últimas antes da cúpula da ONU de Durban, a arquitetura do novo tratado do clima.
¿ Agora, mais do que nunca, todos os esforços devem ser mobilizados em direção a este compromisso ¿ disse, referindo-se ao limite de 2 graus Celsius.
Em Bonn, os cerca de 3 mil delegados deverão discutir, nos próximos dias, detalhes técnicos para as negociações decisivas da África do Sul. Segundo Jan Kowalki, que há oito anos acompanha as discussões sobre mudanças climáticas para a ONG Oxfam, as negociações chegaram a um impasse.
¿ Estamos diante de um impasse, porque os países industrializados anunciaram compromissos de metas de emissões que, se somadas juntas, significariam apenas 18% de redução até o ano de 2020 ¿ denunciou.