Título: Florestas desprotegidas
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Fonte: O Globo, 08/06/2011, Ciência, p. 34

Áreas sob manejo sustentável representam menos de 7% dos bosques do planeta

CLARÕES EM na Mata Atlântica do Rio e toras de madeira saindo de reserva indígena no Pará: mecanismos internacionais devem gerar renda pela manutenção das florestas em pé

Omanejo sustentável das florestas tropicais está avançando rapidamente, inclusive no Brasil, mas já pode ser tarde demais para salvar grande parte delas da destruição, mostra relatório da Organização Internacional de Madeiras Tropicais (ITTO, na sigla em inglês) divulgado ontem. O levantamento ¿ feito com base em dados de 33 países de África, Ásia, Pacífico, América Latina e Caribe que concentram quase a totalidade destes biomas no mundo ¿ revelou que as áreas de exploração sustentável das florestas aumentaram em 50% entre 2005 e 2010, de 36 milhões de hectares para 53 milhões de hectares, enquanto as que têm pelo menos algum tipo de plano de manejo subiram cerca de um terço, totalizando 131 milhões de hectares no ano passado.

Os números, no entanto, indicam que menos de 7% dos 761 milhões de hectares de florestas tropicais do planeta são explorados de forma sustentável e pouco mais de 17% estão a caminho disso. Segundo a organização, Brasil, Gabão, Guiana, Malásia e Peru foram as nações que mais avançaram no manejo sustentável, enquanto países que enfrentaram conflitos nas últimas décadas, como Camboja, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Guatemala, Libéria e Suriname, ainda não têm qualquer tipo de instituição capaz de supervisionar este processo.

¿ Estamos contentes em ver o progresso do manejo sustentável nos últimos cinco anos, mas ele ainda representa um crescimento marginal e alguns países estão ficando para trás ¿ reconheceu Emmanuel Ze Meka, diretor-executivo da ITTO, organismo ligado à ONU que procura regular a produção e consumo de madeiras das florestas tropicais.

Observações com satélites mostraram, porém, uma escalada do desmatamento no Brasil no ano passado, indicando que a perda de florestas em algumas áreas do país vai continuar, mesmo com a proteção crescente em outras regiões. Aqui, como em muitas outras nações, os principais vetores do desmatamento são a liberação de terras para a agricultura, seja para a produção de alimentos ou combustíveis, para pastagens e para o plantio de árvores de crescimento rápido para uso de carvoarias e nas indústrias madeireira e de papel e celulose.

¿ Pessoalmente, creio que é mais importante assegurar que os países decidam que florestas querem manter e com que finalidade, cuidando delas de maneira satisfatória, do que chorar lágrimas de crocodilo pelo desmatamento ¿ considerou Duncan Poore, um dos autores do relatório e ex-líder da União Internacional para Conservação da Natureza. ¿ A realidade é que, na maioria dos países, o desmatamento vai continuar. Mas se eles tomarem conta das áreas que são mesmo importantes ecologicamente, isso pode não vir a ser um problema.

Ainda de acordo com a ITTO, o comércio mundial de madeiras tropicais, em forma bruta ou na de móveis e outros produtos, movimenta cerca de US$20 bilhões anualmente. E, embora muitos países ricos como EUA, Japão e da União Europeia tenham aprovado leis proibindo ou restringindo a importação de madeiras sem certificação, a organização considera fundamental a aprovação do mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD), em debate nas negociações globais sobre mudanças climáticas, como forma de estimular o manejo sustentável das florestas.

Mais de 400 milhões de hectares desmatados

Segundo a organização, dos 761 milhões de hectares delas, 358 milhões foram apontados como de proteção permanente pelos países onde estão localizadas, enquanto 403 milhões estão abertos para a exploração ou desmatamento.

¿ Precisamos assegurar que tenhamos ferramentas disponíveis para gerar renda pela manutenção das florestas em pé de forma a competir com usos alternativos da terra, como a agricultura e biocombustíveis ¿ disse Poore.