Título: Febre alta no Senado
Autor: D'Elia, Mirella
Fonte: Correio Braziliense, 10/08/2009, Política, p. 3

Representação contra Arthur Virgílio no Conselho de Ética e CPI da Petrobras prometem manter elevada a temperatura na Casa

Virgílio admite ter autorizado funcionário a estudar no exterior com salário pago pelo Senado. Diz estar devolvendo o valor aos cofres públicos

A semana promete ser de novos embates entre governo e oposição no Congresso Nacional e não há sinais de que a temperatura da crise baixará por enquanto. Um dos focos de tensão será o Conselho de Ética do Senado. Depois que o presidente do órgão, Paulo Duque (PMDB-RJ), engavetou as 11 acusações contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o conselho vai analisar esta semana uma representação proposta pelo PMDB contra o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM). Peemedebistas já disseram publicamente que a iniciativa foi uma reação direta à atitude dos tucanos de apresentarem três representações contra Sarney. Tucanos, por sua vez, estudam ingressar com outra representação, esta contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que bateu boca na quinta-feira passada com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

O conselho deve se reunir na quarta-feira. A oposição diz que não vai recuar diante da pressão. A estratégia é recorrer da decisão de arquivamento sumário das acusações que pesam contra Sarney. E, se preciso, levar o caso até o plenário da Casa. ¿O plenário do conselho vai ter que decidir. Talvez o PT se comova. Se nos der os votos, nós ganhamos¿, disse o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

O vice-líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), classificou a representação contra Arthur Virgílio como revanchista. Na avaliação dele, há dissidências até mesmo no interior da própria base aliada quanto ao tema. ¿Ela (a representação) não se sustenta, pelo menos nos critérios do bom senso¿, declarou.

Petrobras A reunião da CPI da Petrobras, prevista para amanhã, também vai esquentar os ânimos no Senado. Tucanos e democratas vão insistir em ouvir a ex-secretária da Receita Federal, Lina Maria Vieira. Ela ficou apenas 11 meses à frente do cargo. Caiu após a revelação de que a Petrobras foi penalizada com multa por ter adotado uma manobra tributária para pagar menos impostos, provocando um rombo de R$ 1,4 bilhão. A descoberta acabou acelerando o processo de criação da CPI.

Álvaro Dias já havia apresentado um requerimento para que a ex-secretária falasse ao conselho. Se for derrotado novamente, ele diz que vai mudar de tática: defenderá que ela compareça a outra comissão do Senado, como a de Constituição e Justiça (CCJ). ¿Na CPI, eles (governistas) estão intransigentes. Me parece que o que ela tem a dizer não é bom para o governo¿, ironizou Dias.

A insistência em levar Lina Maria ao Congresso foi reforçada depois que a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista em que a ex-secretária disse que teria ouvido da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, um pedido para concluir rapidamente uma investigação da Receita sobre empresas da família Sarney. A Casa Civil nega o encontro.

Para a oposição, foi mais um componente para apimentar a crise que tomou conta do Senado após as denúncias contra José Sarney. ¿A crise não se acalma. Enquanto não resolver definitivamente o problema, a temperatura fica alta. A febre não baixa¿, disse Demóstenes Torres. ¿Se a Lina confirmar publicamente o que disse, a atitude do governo fica em xeque. Ela disse que a ministra-chefe da Casa civil estava operando para amornar uma investigação. Ela tem que aparecer¿, emendou o líder do DEM, José Agripino (RN).

O governo reagiu. Para o ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), pode ter havido um erro de interpretação da ex-secretária sobre o que teria dito a ministra. ¿Quem conhece a ministra Dilma sabe que ela não faria isso, não acho do espírito dela. É preciso avaliar melhor¿, declarou.

DECORO

O PMDB pediu ao Conselho de Ética do Senado que abra um processo de cassação por quebra de decoro contra o senador Arthur Virgílio por entender que ele cometeu falsidade ideológica, prevaricação e estelionato. A legenda diz que protocolou a representação com base em discurso do próprio senador, que admitiu ter autorizado um funcionário a deixar o Brasil para estudar no exterior com salário do Senado. O PMDB cita, também, empréstimo que o ex-diretor-geral da Casa, Agaciel Maia, teria feito ao tucano e gastos com tratamento de saúde da mãe do parlamentar.