Título: Bariloche sem voos até di a21
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 08/06/2011, O Mundo, p. 32

Chuva de cinzas atrapalha turistas, suspende aulas e interrompe fornecimento de água e luz

MENINO USA máscara para se proteger da poeira tóxica em Bariloche

BUENOS AIRES. Quando pensou em comemorar seus 50 anos em Bariloche, o paulista Nilson Martinez Romero jamais imaginou que, no dia de seu aniversário, estaria tentando conseguir uma passagem de ônibus para chegar a Buenos Aires. Acompanhado da mulher, Doraci Lima, ele desembarcou em Bariloche na sexta-feira passada e, no dia seguinte, se assustou ao ver como uma enorme nuvem escura cobria totalmente o céu da cidade. Com a chuva de cinzas e areia vulcânica estragando a viagem do casal à Patagônia argentina, desde então, eles tiveram de cancelar todos os passeios previstos e passaram a maior parte do tempo no hotel Villa Huinid ¿ tentando manter a calma e buscando uma maneira de sair da cidade por via terrestre para não perder o voo de volta para São Paulo, na próxima sexta.

¿ Em alguns momentos sentimos medo, sobretudo quando no domingo passado o carro que alugamos amanheceu coberto de cinza ¿ contou Doraci, por telefone.

Ontem, o casal teve de ir ao centro da cidade para tentar comprar uma passagem de ônibus, já que as autoridades de Bariloche informaram que, no melhor dos casos, o aeroporto será reaberto só no próximo dia 21. O sistema havia caído na agência de uma das empresas de turismo da cidade e, portanto, era impossível emitir passagens. Quando Nilson e Doraci retornaram ao hotel, não havia internet.

¿ Está tudo muito precário, a cidade está deserta e ninguém nos ajuda ¿ lamentou a brasileira.

Segundo Doraci, só de pensar no percurso de quase 1.600 quilômetros entre Bariloche e Buenos Aires, já se sente enjoada.

¿ Passo muito mal em ônibus. Depois de tanto planejar, nunca pensei que nossa viagem terminaria assim ¿ disse ela.

Nos últimos dias, as ruas de Bariloche pareceram praias de areia úmida. O governo regional já começou a limpar a cidade e o aeroporto, mas, segundo autoridades, os trabalhos devem demorar até duas semanas. Ontem também ocorreram novos apagões, já que a cinza vulcânica provoca curtos circuitos no sistema elétrico. Em alguns bairros também foram prejudicados os sistemas de aquecimento e até as bombas d¿água. Todos os órgãos públicos, escolas, universidades e a maioria das lojas, parques e restaurantes deverão permanecer fechados por vários dias.

A temporada de inverno só começa no final de junho, mas ontem as principais câmaras que reúnem empresas de turismo da região se encontraram para discutir medidas de emergência.

¿ Se a chuva de cinza e areia vulcânica passar nos próximos dias, como esperamos, a temporada de inverno não será afetada ¿ disse o porta-voz do governo de Bariloche, Carlos Hidalgo.

Para os moradores de Bariloche, a vida ficou bastante complicada. Até ontem a capa de cinza e areia vulcânica atingia entre quatro e cinco centímetros nas ruas, faltavam luz e água em alguns bairros, e também produtos como água e leite em supermercados.

¿ O mais grave é a falta de luz e de aquecimento em algumas casas ¿ comentou Fernando Posada, que dirige uma escola rural a 15 quilômetros de Bariloche. Ontem, amigos e familiares de Fernando telefonaram pedindo para passar a noite em sua casa, já que nesta época do ano é insuportável dormir sem aquecimento. (J.F.)