Título: Combustível, dessa vez, faz inflação recuar
Autor: Durão, Mariana
Fonte: O Globo, 08/06/2011, Economia, p. 25

IPCA, do sistema de metas do governo, baixou de 0,77% para 0,47% em maio. No atacado, preços também caem

RIO e BRASÍLIA. Depois de meses empurrando a inflação para cima, os combustíveis fizeram o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuar em maio. O índice que orienta o sistema de metas de inflação do governo ficou em 0,47% no mês passado contra 0,77% em abril, informou ontem o IBGE. Somente no preço do álcool, a queda foi de 11,34%, depois de alta de 11,20% em abril. Período de safra que aumentou a oferta do produto e uma ação do governo, usando a distribuidora BR para conter os preços, explicam a queda. Mas no acumulado dos últimos 12 meses, o índice continua em alta. Chegou em maio a 6,55%. Além de ser o maior resultado desde os 6,57% de julho de 2005, o índice supera o teto de 6,5% da meta oficial do governo pela segunda vez em 2011. No ano, o IPCA foi de 3,71%, o maior para o período desde 2003 (6,80%).

Serviços pressionam o índice e sobem 8,54% em um ano

No atacado, os preços também estão em queda. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), componente principal do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) foi negativo em 0,63% em maio, depois de subir 0,24%. O índice completo ficou em 0,01%. O indicador é medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

- Temos quedas de matérias-primas, de combustível, de alimentos e intermediários. Foi algo bem disseminado - disse Salomão Quadros, da FGV.

A avaliação do mercado é que o resultado, tanto do IPCA quanto do IGP-DI, já era esperado e, portanto, não deve influenciar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na reunião de hoje. A expectativa é de que a taxa básica de juros (Selic) suba 0,25 ponto percentual, para 12,25% ao ano.

- É cedo para comemorar e o Banco Central (BC) tende a manter a guarda alta e um discurso mais duro. A alta de 0,25% hoje deve ser uma decisão unânime - diz o economista Elson Teles, da Máxima Asset, que espera mais dois a três altas na Selic no ano.

Em sua avaliação, para efeito de política monetária é importante que o BC olhe mais para os núcleos (que excluem as altas e baixas mais expressivas, apontando a tendência da inflação) - cuja média, calcula, ficou em 0,59% - para buscar a tendência e evitar a volatilidade de alguns itens.

Luiz Roberto Cunha, economista da PUC-Rio, concorda com Teles. O IPCA menor não mudará os rumos da reunião do Copom hoje:

- Ainda há preocupações como os dissídios no segundo semestre e o reajuste de 14% do salário mínimo em 2012.

O economista Cristiano Souza, do Santander, alerta para a pressão do setor de serviços.

- O índice de difusão (quantidade de produtos com preços em alta) saiu de 59,4% em abril para 64,8%. Além disso, a alta nos serviços está em 8,54% em 12 meses, sem trégua desde fevereiro. Mesmo em 2008, um ano muito aquecido, essa taxa rodou a 5,2%. Isso mostra que há uma pressão direta da demanda - diz.

No mês de maio, segundo Eulina Nunes, coordenadora do Sistema de Índice de Preços do IBGE, além da safra, que aumentou a oferta de álcool, o preço alto também afastou os consumidores:

- Houve também um efeito na demanda, já que preços altos desestimulam o consumo.

Os alimentos por sua vez subiram 0,63% em maio, acima do índice geral e dos 0,58% de abril. Os destaques foram os preços do tomate (de -18,69% para 9,41%) e leite pasteurizado (de 2,66% para 3,15%).

No ano, apesar da retração mensal, os combustíveis mantiveram a trajetória de alta iniciada em outubro de 2010. Por conta disso e da concentração de reajustes de preços dos ônibus urbanos no início do ano, o grupo transporte já responde por um quarto do IPCA no ano. Somados, alimentação e transporte, onde se concentra o consumo das famílias, são 46% da inflação do ano.

- A boa notícia é que a queda dos combustíveis deve continuar em junho. As coletas e o IPA-Agrícola também mostram que os preços dos alimentos tendem a desacelerar em junho - diz Cunha

Alívio na equipe econômica com IPCA mais baixo

A equipe econômica respirou aliviada com a divulgação do IPCA e do IGP-DI. Os números, na avaliação dos técnicos, confirmam as projeções oficiais de que o segundo trimestre marcaria o início do declínio da taxa de inflação, permitindo a convergência para a meta no primeiro semestre de 2012. Mas isso não deverá mudar a orientação da política de juros e nova alta da Taxa Selic é esperada hoje.

- O IPCA veio excepcionalmente muito bem, já mostrando que a inflação está se dissipando e convertendo para a meta em 2012. Não ficará de maneira alguma fora da banda de tolerância - comemorou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland.

A equipe econômica esperava IPCA entre 0,3% a 0,4%.

COLABORARAM Martha Beck e Patrícia Duarte, com agências internacionais