Título: Consórcio estuda como atender à demanda durante obra de Belo Monte
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 08/06/2011, Economia, p. 24

Em busca de fornecedores, grupo apresenta lista de compras a empresários

BRASÍLIA. A dias do início das obras de Belo Monte, as empresas de Altamira (PA) - a principal cidade da região - ainda não sabem como farão para atender às gigantescas demandas do projeto e reconhecem que a falta de estrutura pode ser um problema. Preocupado com o abastecimento de produtos nos canteiros de obra, antes mesmo de receber a ordem de serviço que dará a largada para os trabalhos, o consórcio construtor da usina resolveu reunir a partir de amanhã 200 empresários para apresentar sua lista de compras e tentar achar fornecedores na própria região.

BNDES, Banco do Brasil e Banco da Amazônia também participarão do encontro e deverão financiar as melhorias na infraestrutura do comércio local, assim como o Sebrae, que deve ajudar os micro e pequenos empresários a formarem cooperativas. As 60 mil refeições diárias, distribuídas aos cerca de 20 mil trabalhadores que estarão nos canteiros durante o pico das obras, vão exigir a compra de pelo menos dez toneladas de carne e embutidos por dia. Na lista de compras diárias, estão ainda 3,5 toneladas de arroz, 1,3 tonelada de feijão, 4 toneladas de hortaliças e 120 quilos de café.

- Estamos nos preparando para tentar atender a pelo menos 10% da demanda deles (operários). Assim já estaremos satisfeitos. O consórcio sabe que o comércio local não tem condições (de fazer mais) - disse Vilmar Soares, presidente da organização Fort Xingu, que reúne 178 entidades locais.

Estabelecimentos informais terão que se legalizar

Altamira tem hoje 1.700 empresas que estão aptas a vender com registro e nota fiscal, como manda a legislação, mas nem todas têm estrutura física para fornecer os itens necessários. Pouco mais de 300 estabelecimentos, segundo Soares, estão na informalidade e precisam se legalizar para se tornarem fornecedores. Ele garante que o plantel de dois milhões de cabeças de gado da região é capaz de dar conta da demanda de Belo Monte. Mas já não há como fornecer frango e peixe para os locais, que somam 105 mil.

O principal problema é a falta de infraestrutura da região, que não está preparada para aumento repentino da demanda. Estradas ruins, sendo 509 km de terra, fornecimento de energia intermitente e armazéns e frigoríficos voltados ao mercado local estão entre os problemas.

- Nossa prioridade é privilegiar os proprietários rurais, comerciantes, prestadores de serviços e empresários de Altamira e municípios vizinhos. Certamente, a grande maioria vai precisar de adequar às exigências, e essa rodada de negócios vai ajudá-los - explica Marcos Sordi, diretor de Administração do Consórcio Construtor Belo Monte.

- A empresa não deu o parâmetro de quanto vai comprar. Precisamos ter o cronograma do seu consumo nos próximos meses. Precisamos de previsibilidade e de armazéns maiores - afirmou Arnon Cardoso, dono do Cardoso Supermercado.

Ontem, a presidente Dilma Rousseff aproveitou a assinatura contrato de concessão da usina de Teles Pires, no rio de mesmo nome (MT/PA) para falar sobre o bombardeio que a hidrelétrica de Belo Monte vem sofrendo, devido às dúvidas sobre a responsabilidade ambiental do empreendimento. Ela cobrou também uma atitude do setor elétrico, que para ela precisa defender este modelo de "uma energia mais barata, mais eficiente e mais sustentável".

- Acho que estamos perdendo a oportunidade de discutir esta matriz como fonte importante de energia. Defender Belo Monte é defender o modelo (energético brasileiro). Belo Monte enseja esta discussão.

Com potência de 1.820 megawatts (MW), Teles Pires deverá começar a funcionar em 2015. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que serão criados 17 mil empregos diretos e indiretos e que todos os equipamentos serão fabricados no Brasil. A energia da usina será suficiente para abastecer 8% das residências existentes hoje.

COLABORARAM Mônica Tavares e Luiza Damé