Título: Para economistas, mudança não afeta mercado
Autor: Rodrigues, Lino; Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 08/06/2011, O País, p. 16

Especialistas elogiam o tempo em que Palocci passou no governo, mas mostram que não viam outra saída

SÃO PAULO. A saída do ministro Antonio Palocci do governo foi vista como "previsível" e sem grandes repercussões no mercado por empresários, economistas e sindicalistas ouvidos pelo GLOBO. Avaliam que o afastamento do ministro é positivo para o governo Dilma, paralisado desde que começaram as denúncias contra ele. Para o ex-diretor do Banco Central (BC) Carlos Thadeu de Freitas, a presidente vai sentir falta do "conselheiro" Palocci, um dos principais interlocutores na área empresarial.

- Do ponto de vista empresarial, ele (Palocci) vai fazer falta à presidente Dilma. Ele foi um ministro político, mas tinha o apoio do setor privado e sabia interpretar o mercado - disse Freitas, que é economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

O economista disse ainda não acreditar que a saída de Palocci cause algum efeito no mercado financeiro. Segundo ele, a economia passa por um bom momento, com inflação em queda e se ajustando a uma taxa de crescimento menor, como deseja o governo.

- Saídas de ministros não afetam tanto a economia como no passado. A economia está no piloto automático, sob controle - disse Freitas.

O diretor do Departamento de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Gianetti da Fonseca, considerou "lamentável" uma substituição tão rápida de um ministro importante para o governo da presidente Dilma. Ele considerou uma "perda" para o Brasil não contar mais com o trabalho dele no governo.

- Palocci fez um belo trabalho pelo Brasil como ministro no governo de Dilma e do ex-presidente Lula - disse Gianetti da Fonseca, lembrando que o ex-ministro também foi um dos mentores da "Carta aos brasileiros", divulgada antes da vitória de Lula nas eleições de 2002, e que deu garantias ao mercado de que não haveria grandes mudanças na economia ou quebra de contratos.

Já o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, afirmou que Palocci teve seus motivos para deixar o cargo, mas o país vai continuar avançando, pois o Brasil "é maior do que qualquer ministro":

- Essa é uma questão de governo. A vida continua e o Brasil vai continuar andando.

"Seria cada vez mais desgastante para o governo"

O deputado e sindicalista Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical, que havia defendido a saída do ministro, disse que Palocci acabou deixando o cargo em um bom momento, já que aproveitou a decisão do Ministério Público de não abrir investigação contra ele. O sindicalista diz que o governo Dilma fica fortalecido com o afastamento do ministro.

- Foi o melhor momento. Se ficasse, seria cada vez mais desgastante para o governo. A saída dele fortalece o governo, afinal, era ele quem estava enfraquecendo a Dilma. Agora que saiu, vão parar com as denúncias - disse Paulinho.

Sobre a escolha da senadora Gleisi Hoffmann para assumir a Casa Civil, Paulinho se mostrou reticente:

- Vamos ver. Ela é novata. Novatíssima. A relação política do governo com o Congresso estava muito ruim. A articulação política precisa melhorar. Então, vamos esperar para ver.

Para Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), a demissão de Palocci "foi um gesto de grandeza" e uma forma de tirar o foco e a pressão do governo da presidente Dilma.

- Foi um gesto de grandeza do Palocci, que percebeu que a situação era muito complexa, que o que ocorria não era um problema de governo, mas algo relacionado a ele. Saindo, diminui a pressão, e a Dilma fica fortalecida. O desconforto iria continuar - disse Patah.

Ele avalia que Gleisi Hoffmann, a sucessora de Palocci, conta com a confiança da presidente, o que é um trunfo importante no cargo.