Título: Queda de Palocci esvazia abertura de CPI
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 08/06/2011, O País, p. 14
Escolha de Gleisi é recebida com desconfiança por oposição e aliados
BRASÍLIA. A queda do ex-ministro Antonio Palocci esvaziou a ação da oposição, que vinha conquistando espaço no cenário político e apoio dentro da base aliada do governo para a abertura de uma CPI sobre as denúncias envolvendo o crescimento vertiginoso do patrimônio do petista. Parte da oposição considera que ainda é possível tentar investigar a suspeita de tráfico de influência contra Palocci quando era deputado. Por outro lado, a escolha da senadora Gleisi Hoffmann para a Casa Civil foi recebida com desconfiança tanto pela oposição como por aliados, inclusive os petistas. A senha de que a saída de Palocci não resolve os problemas políticos do governo foi dada pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).
- A questão da articulação política é um tema que a presidente Dilma deverá tratar com as lideranças políticas. A partir da saída de Palocci, restabelecer as relações, redistribuir os parâmetros de atuação e interação entre governo, Congresso e Judiciário, como um todo. É restabelecer pontes que garantam boa convivência - disse Marco Maia, que fez questão de "prestar solidariedade" a Palocci.
Entre aliados do PMDB, o nome de Gleisi foi recebido com cautela. Eles avaliaram nos bastidores que ela atua como "um trator" e não respeita aliados, e deixaram claro que a decisão foi da presidente.
- A análise foi feita pela presidente Dilma, cabe a nós respeitar e confiar. O PMDB cumpriu seu dever, foi solidário com o ministro Palocci. Agora é apoiar a escolha da presidente. No caso do ministro Luiz Sérgio, nossa avaliação é que a atuação dele é boa. Ele não tem é poder - disse o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).
A oposição tenta agora discutir uma estratégia para que as denúncias contra Palocci não sejam esquecidas. O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE) considera que a presidente Dilma saiu desgastada do processo.
- A Dilma sai menor do que entrou nesse episódio. A saída de Palocci era inevitável. A senadora assumiu agora no Senado, e isso é muito pouco para dirigir essa área do governo. Ela (Gleisi) e a Dilma não têm experiência de liderar - disse Sérgio Guerra.
- O nível de hemorragia (de Palocci) ficou incontrolável do ponto de vista da governabilidade - acrescentou o líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP).
O líder do DEM na Câmara, deputado ACM Neto (BA), disse que as cobranças sobre as ações de Palocci permanecerão. Mas o senador Aécio Neves (PSDB-MG) duvidava do fôlego da oposição diante da queda do ministro.
- Do ponto de vista jurídico, as investigações continuam. Do ponto de vista político, tenho dúvidas se vale a pena manter o embate político - disse Aécio.
O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP), destacou a "agilidade" de Dilma:
- O governo não diminuiu nessa crise. Acho que a Gleisi é uma pessoa importante e preparada politicamente.