Título: Maldição da Casa Civil não deixa esquentar cadeira
Autor: Remígio, Marcelo
Fonte: O Globo, 08/06/2011, O País, p. 13

Para especialistas, concentração de poder e exposição excessiva motivariam a queda de tantos titulares do cargo

Para uns, um cargo que concentra poder demais. Para outros, uma das funções mais visadas do governo e que deixa seu titular sob telhado de vidro. O certo é que poucos têm conseguido esquentar a cadeira de chefe da Casa Civil - Gleisi Hoffmann é a sexta a ocupar o cargo desde o primeiro ano do governo Lula. O ex-ministro Antonio Palocci foi mais um a enfrentar a "maldição" da Casa Civil e a engrossar a lista de ex-titulares que, em pouco mais de oito anos, deixaram o gabinete em meio a acusações de irregularidades na vida pública.

Antes de Palocci, tiveram o mesmo destino José Dirceu e Erenice Guerra. Ainda na era Lula, Dirceu foi envolvido no escândalo do mensalão do PT e perdeu a cadeira de superministro para a atual presidente, Dilma Rousseff. Por pouco, a então ministra também não vira uma vítima da "maldição". Foi em sua gestão que a pasta esteve envolvida em denúncias de produção de um dossiê sobre os gastos do ex-presidente Fernando Henrique e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso. Blindada por Lula, Dilma saiu ilesa. Mas sua sucessora não. Erenice Guerra, sua ex-assessora, deixou o cargo envolvida em denúncias de tráfico de influência. E Lula teve mais um até passar a faixa a Dilma.

- A questão não é o cargo, mas as pessoas que têm ocupado a vaga. Ao comandar a Casa Civil, José Dirceu assumiu o papel de presidente alternativo, subpresidente, para Lula fazer política. Acumulou problemas e teve que deixar o cargo. Erenice não soube conviver com muito poder e arrumou problemas na pasta, após beneficiar o filho. Já Palocci chegou na pasta trazendo problemas - analisa o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB).

A concentração de poder é apontada pela cientista política Lúcia Hipólito como um dos motivos que levam à "maldição" da Casa Civil. O titular está mais exposto que em outras pastas. Mas ela também afirma que, nos governos do PT, os presidentes erraram nas escolhas:

- Não é maldição, é o perfil das pessoas que assumiram a Casa Civil. Não foi surpresa o que aconteceu com Palocci, pois ele já enfrentava denúncias desde a época em que foi prefeito de Ribeirão Preto. Num cargo estratégico como este, era natural que ele ficasse mais exposto. O curioso é que as denúncias, desta vez, não partiram da oposição. Vieram de dentro do PT mesmo. Não podemos nem chamar de fogo amigo, é ódio mesmo de dentro do partido.

Cientista político e professor da UFF, Eurico Figueiredo diz que o problema não está na cadeira, mas no partido que tem ocupado o posto, o PT.

- É um partido que vive uma crise de identidade. Passou de oposição para o governo e já caminha para o nono ano de administração federal. Era um partido que pregava a ética, mas que passou a apresentar problemas em seus quadros. Quando Lula escolheu Dilma, uma técnica, deu uma declaração clara de que não confiava em nomes da legenda com perfil político.

Mas não só nos governos petistas que a "maldição" fez vítimas na Casa Civil. Em 1993, o ex-presidente Itamar Franco afastou temporariamente o ministro Henrique Hargreaves. Ele teve o nome envolvido no esquema de corrupção dos anões do Orçamento. Inocentado, voltou para o governo com mais força.