Título: Para arquitetos, é preciso reassentar
Autor: Daflon, Rogério; Schmidt, Selma
Fonte: O Globo, 05/06/2011, Rio, p. 22

Urbanistas dizem ser fundamental retirar moradias de áreas de risco

O arquiteto e urbanista Luiz Carlos Toledo, um dos principais formuladores da reurbanização da Rocinha, destaca que não há como transformar uma favela em bairro sem que pessoas que vivem em áreas de risco sejam reassentadas dentro das próprias comunidades. O arquiteto Luiz Fernando Janot, conselheiro do IAB-RJ, acrescenta que o mesmo deve acontecer em relação às áreas de proteção ambiental.

¿ As casas a serem construídas para as realocações deveriam ser maiores do que o autorizado pela Caixa Econômica Federal, que limita as famílias a absurdos 42 metros quadrados e só aumenta a distância entre o padrão do asfalto e o da favela ¿ diz Toledo.

Regularização fundiária, outro ponto destacado

No caso das favelas pequenas, o arquiteto Janot diz que a urbanização e até o reassentamento são facilitados.

¿ Por serem menores, é mais fácil equipará-las ao entorno.

Para Toledo, a regularização fundiária também não pode ser postergada:

¿ Sem a titulação da terra, o morador não consegue pegar um centavo no banco para financiar uma obra que qualifique sua casa.

O presidente da Federação de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj), Rossino Castro Diniz, concorda:

¿ O título dá libertação. Como os moradores vão se sentir num bairro se a qualquer momento podem sair dali? Poucos títulos foram dados até agora.

Para Rossino, áreas dominadas pela criminalidade nunca serão bairros. E ele quer mais do que escolas de ensino fundamental e creches nas comunidades maiores:

¿ Como no asfalto, deveria haver bons colégios de ensino médio.

O superintendente de Relações Institucionais da Fecomércio-RJ, Marcos Neves, insiste na segurança pública como condição para favelas virarem bairros. Mas ele deixa claro que a transformação é um processo:

¿ Com a pacificação, empresários de comunidades ficam estimulados a exercer a atividade dentro da legalidade, como no asfalto. Sem o domínio de bandidos, poderão regularizar seu negócio. Passarão a recolher impostos, mas, ao mesmo tempo, poderão recorrer a créditos.

Neves cita a parceria do Senac com a Secretaria estadual de Assistência Social, que permitiu a criação de cursos profissionalizantes em áreas pacificadas. A presidente da Associação de Moradores de Botafogo, Regina Chiarádia, vai além, enfatizando a importância de garantir às comunidades acesso à educação formal de qualidade:

¿ Só com educação vai se romper a barreira da segregação e acabar com os guetos. Educadores devem subir o morro para estimular os moradores a estudarem. Não vejo necessidade de termos escolas nas comunidades, mas dentro do bairro e com acesso facilitado.

Sinduscon defende habitações mais dignas

Para Regina, uma favela não vira bairro por decreto ou ¿por canetada¿:

¿ Não se trata de mágica.

De novo, a segurança é citada pelo presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Rio (Sinduscon-RJ), Roberto Kauffmann, como o início de uma caminhada:

¿ Dentro desse processo de transformação de favelas em bairros não se pode esquecer ainda das moradias. As que podem devem ser reformadas e as sub-habitações têm de ser substituídas por casas dignas.