Título: Classificação é baseada em critérios genéricos
Autor: Daflon, Rogério; Schmidt, Selma
Fonte: O Globo, 05/06/2011, Rio, p. 23

Para definir `comunidades urbanizadas¿, IPP avaliou intervenções como pavimentação, drenagem e áreas de lazer

A VILA Sapê, em Jacarepaguá, é uma das `ex-favelas¿: a comunidade conta com saneamento em todas as casas, um dos critérios do IPP

Os critérios do Instituto Pereira Passos (IPP) e da Secretaria municipal de Habitação (SMH) para não mais considerar 44 áreas como favelas, e sim como ¿comunidades urbanizadas¿, são bem genéricos e com base em apenas quatro itens: o sistema viário pavimentado, iluminado e com drenagem pluvial; redes de abastecimento de água e esgoto; equipamentos coletivos de educação, saúde e assistência social, segundo necessidades e tamanho da população; e áreas para lazer e prática de esportes.

Instituto modificará lista de site

Enfatizando que a prefeitura nunca usou o rótulo ¿ex-favela¿ ¿ embora o próprio IPP vá modificar seu site, no qual essas localidades não estarão entre as favelas ali listadas ¿, o presidente do órgão, Ricardo Henriques, diz que a categoria ¿comunidade urbanizada¿ supõe que tais lugares alcançaram um outro padrão devido a intervenções do poder público nos últimos 20 anos.

¿ Se eu não fizer essa distinção, eu perco a minha capacidade de planejar. Mas é claro que esses locais necessitam ainda de ações prioritárias do poder público. A continuidade de políticas públicas neles deve ter inclusive alguns princípios básicos, como um diálogo forte com a comunidade, reconhecendo sua cultural local, sua criatividade e a força das diversidades. Quando a urbanização diminuir a precariedade dessas localidades, virão à tona seus muitos aspectos positivos ¿ diz Henriques, ressaltando que, para que esses espaços sejam totalmente integrados à cidade, é fundamental a garantia de segurança.

A artista plástica Yvonne Bezerra de Mello questiona os critérios da prefeitura para dizer que 44 comunidades deixaram de ser favelas:

¿ Não é porque botou luz que uma favela vira bairro. Como é que comunidades enfiadas em vielas e com as pessoas vivendo em casas grudadas umas às outras podem ser consideradas bairros? Além disso, para virar bairro, a comunidade precisa ter as mesmas condições de segurança. Como tudo no Brasil, as intervenções nas favelas ficam pela metade.

A líder comunitária Eliana Souza diz que a presença de equipamentos públicos não significa qualidade do serviço.

¿ No Complexo da Maré, há sete postos de saúde, mas eles foram instalados de maneira pulverizada, não se comunicam entre si e, por isso, não universalizam a saúde na Maré ¿ diz Eliana. ¿ Não à toa, o índice de desenvolvimento humano da Maré, que é muito baixo, não condiz com a quantidade de serviços públicos do lugar. A questão é qualitativa mesmo.

Seja como for, na Maré, Baixa do Sapateiro, Parque Maré, Parque Rubens Vaz, Parque União e Timbau não são classificados mais como favelas.

Para especialista, é preciso ouvir os moradores

Morador da Cidade de Deus, o cineasta Rodrigo Felha analisa o lugar onde mora, levando em conta que a comunidades conta com a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP):

¿ Os outros serviços não entraram com a mesma velocidade do que a UPP. Se querem pacificar uma comunidade, por que não entram ao mesmo tempo funcionários das secretarias de Cultura, de Obras?

Para Jailson de Souza, coordenador do Observatório de Favelas, para melhorar a qualidade da reurbanização e oferecer melhores serviços públicos, é preciso ouvir os moradores:

¿ Talvez se ouvisse os moradores do Complexo do Alemão, o poder público não gastaria milhões construindo um teleférico, assim como, na Barra da Tijuca, não faria a Cidade da Música se ouvisse aquele bairro.