Título: Battisti: Itália reage e ameaça recorrer a Haia
Autor: Góes, Bruno; Castro, Juliana
Fonte: O Globo, 10/06/2011, O País, p. 13

Autoridades italianas protestam contra libertação do ex-ativista; Patriota diz que governo italiano "estava preparado"

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de mandar soltar o ex-ativista italiano Cesare Battisti e não extraditá-lo provocou ontem forte reação das principais autoridades da Itália. Além de reafirmar que recorrerá ao Tribunal Internacional de Haia ¿ considerada pelo primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, a"única alternativa" ¿, a Itália ameaçou até boicotar a Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil. Em comunicado, o presidente italiano Giorgio Napolitano afirmou que "deplora" a decisão sobre Battisti. Já o ministro da Justiça italiano, Angelino Alfano, afirmou que o resultado do julgamento fere a soberania da Itália.

¿ Para o Estado italiano, Cesare Battisti é um assassino, autor de crimes hediondos ¿disse. ¿ Éum verdadeiro ata-que aos princípios de soberania do Estado italiano, pois coloca em dúvida a capacidade de suas altas instituições democráticas, que são ponto de referência na Europa eem outros lugares.

Contrariado, o subsecretário das Relações Exteriores, Alfredo Mantica, afirmou ontem que o Brasil "ainda não está pronto" para ser uma potência mundial.

¿ Esta libertação demonstra que o Brasil ainda não está pronto para entrar no círculo das grandes potências mundiais, e, disto, a Itália vai recordar em todas as oportunidades e fóruns internacionais ¿afirmou o diplomata. Alberto Torregiani, filho de uma das vítimas de Cesare Battisti, também falou sobre o assunto:

¿ Saber que Battisti foi libertado é, para mim, um soco no estômago. O ministro da Simplificação Normativa, Roberto Calderoli,disse que o país poderia mostrar o descontentamento dos italianos com o Brasil por meio do futebol.

¿Um modo para fazer entender nossa indignação pode ser o de boicotar o Mundial ¿ disse Calderoli à agência Ansa. A Fifa considera, no entanto, a possibilidade de aplicar sanções à Itália, caso opaís faça o que ameaçou o ministro, segundo o porta-voz, Pekka Odriozola. Do lado brasileiro, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse ontem, em Nova York, que as autoridades italianas estavam preparadas para a decisão.

¿A decisão ontem (quarta-feira) foimuito clara. Até certo ponto, as autoridades italianas estavam preparadas para essa decisão ¿afirmou Patriota à BBC, preferindo não entrar no mérito da decisão do Supremo.

O assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, minimizou o caso:

¿ O problema está circunscrito à esfera judicial quando o STF se avocou a decisão final sobre esse problema. O STF soberanamente decidiu e, evidentemente, a Itália tem todo o direito de usar as prerrogativas que lhe pareçam. Mas acredito que não é mais um tema nas mãos do Executivo. ?