Título: Dilma quer Ideli na articulação
Autor: Jungblut, Cristiane; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 10/06/2011, O País, p. 3

CRISE NO GOVERNO

Presidente contraria PT e PMDB; ministro Luiz Sérgio deve ser afastado hoje

Cristiane Jungblut, Adriana Vasconcelos e Isabel Braga

BRASÍLIA

A presidente Dilma Rousseff está disposta a encerrar hoje a crise envolvendo a reformulação na articulação política do governo, com um encontro, de manhã, com o ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio (PT-RJ). Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, o ministro deixa hoje o cargo. Irritada com o racha no PT e com a ofensiva de aliados do PMDB em defesa do nome do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), para o cargo de Luiz Sérgio, a presidente mandou dizer aos principais líderes no Congresso que suspendessem as negociações, pois seu nome preferido para a vaga é o da ex-senadora e atual ministra da Pesca, Ideli Salvatti (SC). Caso decida por Ideli, a presidente pode ampliar a crise no PT da Câmara. No Senado, a resistência a Ideli não é tão forte, mas o formato da decisão presidencial será um ingrediente a mais no movimento de insatisfação comandado pelo PMDB, desde a escolha solitária de Dilma por Gleisi Hoffmann como substituta de Antonio Palocci na Casa Civil. ¿ Estamos todos estupefatos. É como colocar um elefante bravo para cuidar de uma loja de porcelana ¿desabafou um petista assim que soube da preferência manifestada de Dilma por Ideli, que ficou famosa no Senado pelo seu estilo agressivo na defesa do governo Lula.

Por outro lado, o recado de Dilma enviado ontem aos petistas provocou algo inédito:uma trégua dentro do PT da Câmara. Os principais líderes do partido na Câmara, que estavam divididos, se reuniram para tentar mostrar unidade edar um recado de volta: a Câmara não abre mão de ter o cargo. Para tentar reverter a escolha de Ideli, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), o líder do governo Cândido Vaccarezza e o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), deixaram as brigas de lado e passaram a tarde reunidos. Pela manhã e até o início da tarde, Vaccarezza estava em campanha aberta junto ao PMDB, conseguindo declarações dos peemedebistas em seu favor. ¿Não temos diferença, nenhuma divergência. Estamos trabalhando de forma articulada. Nos próximos dias, nossa intenção é acabar com a impressão de que há disputa entre deputado A, B e C. Não há isso¿disse Marco Maia, após várias horas de reunião. Vaccarezza afirmou estar constrangido com a referência a seu nome para substituir Luiz Sérgio e desconversou quando perguntado sobre a decisão da presidente:

¿ Conhecemos como a presidente Dilma trabalha. Os cotados não foram escolhidos (para substituir Palocci). Ela ouve e decide.

No Congresso, Ideli tem fama de truculenta

Mas, nos bastidores, deputados petistas consideraram um erro pensar em Ideli para a articulação política do governo. As articulações na Câmara consideraram até, no caso de confirmação de Ideli, apossibilidade de Vaccarezza ir para a Pesca, abrindo a vaga de líder do governo para Arlindo Chinaglia (PT-SP), como forma de contentar Marco Maia. No início da noite, um senador confirmou que avontade de Dilma era escolher Ideli, com quem esteve em Santa Catarina ontem. Sem alarde, na última quarta-feira, aprópria Ideli esteve no Congresso, no seu antigo gabinete de líder do governo no Congresso ¿cargo que está vago há cinco meses, mas prometido para opeemedebista Mendes Ribeiro (RS). A ministra aproveitou para conversar com parlamentares, inclusive do PT. A sondagem em torno de Ideli caiu como uma bomba no Congresso, já que havia quase um consenso entre os governistas de que a vaga deveria continuar com o PT da Câmara. Vários parlamentares reclamaram ontem do estilo de Ideli, considerada até truculenta. Ela comprou brigas com integrantes da base aliada do ex-presidente Lula e, especialmente, com a oposição. Mesmo assim exerceu duas vezes o cargo de líder da bancada petista e chegou a ocupar a liderança do governo no Senado.

Apesar da personalidade forte demonstrada em sua passagem pelo Senado, pouco talhada para as negociações políticas mais delicadas, Ideli dificilmente será vetada pelo PMDB, especialmente pelos senadores. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA), e o líder do partido na Casa, Renan Calheiros (AL) têm uma dívida de gratidão com a ex-senadora, que foi solidária em meio a crise enfrentada por ambos.

-¿ Do mesmo jeito que aconteceu na Casa Civil, essa deve ser uma escolha da presidente. Não pode ter imposição do PT, nem de longe do PMDB. O partido colaborará seja qual for aescolha. Queremos ajudar o nosso governo¿ afirmou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), evitando expor as insatisfações do partido.