Título: Preço sobe e grupo vencedor é desfeito
Autor: Andrade, Renato
Fonte: O Globo, 02/06/2011, Economia, p. B3
Montado às pressas pelo governo para viabilizar o negócio, o consórcio vencedor do leilão está perdendo seis sócios
Brasília e Renée Pereira / São Paulo - O Estado de S.Paulo
O início das obras da Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, vai ocorrer em condições bem diferentes das existentes na época do leilão, em abril de 2010. Os acionistas do consórcio vencedor mudaram, o projeto passou por grandes reformulações e o volume de investimento subiu de R$ 19 bilhões para cerca de R$ 25 bilhões. O consórcio construtor, que vai levantar a usina, também ganhou reforços: as construtoras que perderam ou desistiram do leilão da hidrelétrica.
Com a liberação da licença ontem, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), as mudanças vão ficar mais evidentes. A Norte Energia (Nesa) deve acelerar as negociações para concluir a troca de sócios do consórcio investidor. José Ailton de Lima, integrante do Conselho de Administração da Nesa, confirmou ontem que as construtoras J. Malucelli, Galvão Engenharia, Cetenco, Contern, Serveng e Mendes Júnior já declararam interesse em deixar o grupo, conforme antecipou o Estado semana passada. Juntas, as empresas detêm 7,25% de participação na usina.
Segundo o presidente do Conselho de Administração da Nesa, Valter Cardeal, com a liberação da licença do Ibama, a expectativa é que as negociações para encontrar substitutos para as construtoras que estão deixando o consórcio avancem. "Agora estamos com a obrigação de cumprir o cronograma da obra, então teremos dedicação total."
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que a saída de sócios do consórcio não vai comprometer em nada a implementação da hidrelétrica. Lobão lembrou que, quando a Gaia deixou o consórcio, houve uma "fila" de pretendentes para assumir a fatia de 9% que estava nas mãos da empresa do Grupo Bertin. No final, a Vale comprou a participação. Nos bastidores, porém, a história não é bem essa. De fato, havia interessados, mas as condições do projeto não eram nada animadoras.
Outra possibilidade aventada pelo ministro é a absorção da participação das empresas por outros sócios da Nesa. Nas últimas semanas, o mercado vem cogitando a possibilidade de o fundo de pensão dos funcionários da Caixa (Funcef), que detém 2,5% do projeto, abocanhar parte dessa fatia. A Neoenergia é outra empresa que pode absorver uma parte dos desistentes.
Além do consórcio, o projeto da usina também mudou. Ao contrário dos dois canais que seriam construídos para desviar a água do Xingu, as construtoras farão apenas um. Isso vai representar uma economia de cerca de R$ 1 bilhão. Além disso, em vez de 20 turbinas, a usina terá apenas 18, que vão produzir 11 mil megawatts. Apesar disso, o volume de investimentos de todo o projeto não deve ficar abaixo dos R$ 25 bilhões. Antes do leilão, o valor divulgado era de R$ 19 bilhões.