Título: Os desafios da Hidrelétrica de Belo Monte
Autor: Andrade, Renato
Fonte: O Globo, 02/06/2011, Economia, p. B3
Entre todas as formas de energia, eletricidade é uma das mais convenientes: pode ser transmitida a longas distâncias e penetra em nossas residências ou fábricas por fios que atingem os locais mais inacessíveis, onde pode ser convertida em iluminação, acionar máquinas e equipamentos elétricos e eletrônicos.
O Brasil é bem dotado em recursos hídricos e gera mais de 80% da eletricidade em usinas hidrelétricas que têm todas as vantagens em relação às outras opções: é a mais barata, não poluente e, sobretudo, renovável. Pode funcionar por muitas décadas sem usar combustível, o que não é o caso das térmicas ou nucleares. Itaipu é um exemplo.
O problema é o futuro. Como expandir a produção de hidreletricidade?
A Empresa de Planejamento Energético (EPE) fez levantamentos de pelo menos 20 empreendimentos hidrelétricos em várias regiões do País, incluindo a Amazônia, com potência total de 32 milhões de quilowatts. Há cerca de 16 milhões de quilowatts disponíveis na Amazônia, além de Belo Monte.
Usinas hidrelétricas têm aspectos negativos com a inundação de áreas que afetam populações de ribeirinhos, além de induzir desmatamento em torno da usina. Em compensação, beneficiam até milhões de pessoas que vivem a grandes distâncias.
Esse é um aspecto do problema que os ambientalistas têm dificuldades em aceitar, mas deveriam reexaminar. Alagar 500 ou 1.000 quilômetros quadrados para fazer um reservatório pode parecer muito, mas é pequeno comparado ao desmatamento da Amazônia, que, mesmo reduzido, é ainda de pelo menos de 5 mil quilômetros quadrados por ano.
Esse é um problema desde que hidrelétricas começaram a ser construídas. Por essa razão, há cerca de dez anos, o Banco Mundial e a União Internacional para a Conservação da Natureza criaram a Comissão Mundial das Barragens para avaliar o "estado da arte" do licenciamento de novas hidrelétricas. Ela propôs critérios mais rígidos e enfatizou a necessidade de compensar os atingidos. De modo geral, esses critérios são adotados no Brasil e, na medida em que isso for feito, não há como se opor à sua construção.
PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO