Título: Alvo é Dilma. Lina, trampolim
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 11/08/2009, Política, p. 2

A qualquer custo, a oposição pretende levar ao Senado a ex-secretária de Receita Federal Lina Maria Vieira de olho na ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sucedê-lo em 2010. Os adversários do Planalto querem que Lina confirme as declarações que deu à Folha de S. Paulo no domingo. A ex-número 1 da Receita disse que a ministra da Casa Civil perguntou-lhe, durante encontro que teriam tido a sós em dezembro passado, se ela podia ¿agilizar¿ uma investigação contra as empresas de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Lina afirmou ter entendido a mensagem do pedido da seguinte forma: encerrar a investigação contra um dos filhos de Sarney.

Desde o mês passado, os adversários do Planalto queriam levá-la ao Senado. Têm em mãos um requerimento pronto na CPI da Petrobras para chamá-la em função de suposta manobra contábil feita pela Petrobras que teria resultado numa compensação fiscal de R$ 4,3 bilhões em favor da estatal. Lina teria contestado esse artifício e, sem apoio no governo, acabou demitida da Receita. Mesmo com o novo caso envolvendo a família Sarney, os oposicionistas estão cientes de que serão derrotados na CPI em eventual votação. Terão que se contentar em ouvir hoje o depoimento do secretário interino da Receita, Otacílio Dantas Cartaxo.

Dessa forma, a aposta da oposição está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, presidida pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO). A estratégia tem sido articulada nos últimos dois dias pelos tucanos e democratas da Casa. O senador Álvaro Dias afirmou que, ¿por ora¿, não vê motivos para convocar a ministra da Casa Civil antes da ex-titular da Receita Federal. ¿Se ela (Lina Vieira) confirmar essa interferência, vamos ter que convocá-la¿, afirmou o senador, que considerou ¿grave¿ a denúncia.

A estratégia é a mesma adotada pela oposição no ano passado, quando uma manobra do senador Marconi Perillo (PSDB-GO), presidente da Comissão de Infraestrutura, convocou Dilma para explicar o dossiê de gastos de Fernando Henrique Cardoso. O tiro, no entanto, saiu pela culatra. No dia do depoimento, o líder do Democratas, Agripino Maia (DEM-RN), usou uma declaração de que a ministra teria mentido muito durante a ditadura para questioná-la se mentia também à comissão. ¿Eu fui barbaramente torturada, senador. Qualquer pessoa que ousar falar a verdade para os torturadores, entrega os iguais. Eu me orgulho muito de ter mentido na tortura, senador¿, respondeu Dilma, desarmando a oposição.

A ministra da Casa Civil negou, mais uma vez ontem, ter sequer se encontrado com Lina Vieira a sós. O presidente Lula disse que a matéria é fantasia. ¿Quem construiu essa fantasia, essa história, em algum momento vai ter que dizer que foi ledo engano¿, declarou em Quito, no Equador.

Viagem da filha

» O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), disse ontem que poderá devolver aos cofres públicos as despesas que o Senado teve em 2007 quando sua filha acompanhou-o em viagem aos Estados Unidos desde que fique constatado que houve ilegalidade no caso. O senador tucano argumentou que o Senado havia autorizado as despesas de hospedagem da advogada Helena Olympia Guerra, no valor de R$ 4,5 mil. ¿Se for errado, devolvo. Mas nenhuma correspondência foi feita ao meu gabinete. Fiz uma requisição legal nos termos solicitados pelo Senado e recebi a permissão¿, afirmou.

CPI da Petrobras

O que será investigado

Denúncias de irregularidades no pagamento de royalties

Superfaturamento em obras da Refinaria Abreu Lima (PE)

Suspeitas de desvio de verbas e direcionamento político em patrocínios culturais

Fraude envolvendo acordo milionário da Agência Nacional de Petróleo e usineiros

Irregularidades nos contratos de construção de plataformas da Petrobras