Título: Guerra fria entre PT e PMDB
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 11/08/2009, Política, p. 2

Ao deixar aberta a possibilidade de votar a favor de investigar ao menos uma das representações contra Sarney no Conselho de Ética, partido do presidente Lula amplia tensão na base aliada

Aos aliados, José Sarney não esconde o desconforto com a postura dúbia do PT. O trunfo do peemedebista é saber que a bancada de seu partido é numerosa

Anunciada pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini, na última quinta-feira, a intenção da bancada do partido de pedir a abertura de investigação no Conselho de Ética contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deixou o PMDB revoltado e novamente colocou os dois maiores partidos da base governista em campos opostos no Senado. Em conversas reservadas, o próprio Sarney não escondeu o desconforto com a atitude de Berzoini e com a posição de Aloizio Mercadante (PT-SP), que comanda a bancada. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), também não gostou e, internamente, classificou a postura do aliado no plano nacional como de extrema deslealdade.

Os sarneyzistas avaliam que a abertura de uma investigação contra o presidente do Senado agora só serviria para a oposição ganhar terreno na disputa eleitoral de 2010. Mesmo no caso dos atos secretos, um tema administrativo, Sarney estaria exposto, ainda que, dentro do Conselho de Ética, a base governista vote em bloco pela permanência dele na Presidência da Casa. ¿Não importa o mérito, o que eles querem é partir para cima de Sarney¿, comentou um amigo do presidente do Senado, referindo-se aos tucanos.

Os petistas, conforme Berzoini adiantou ao Correio, têm outra avaliação. Eles começaram uma análise criteriosa das 11 representações engavetadas pelo presidente do Conselho, Paulo Duque (PMDB-RJ), contra Sarney. Se em alguma o PT considerar que há embasamento jurídico, o partido pretende orientar os integrantes no conselho a votar pela abertura de investigação. Naquele dia, Berzoini comentou inclusive que não ¿dá para fazer nada de maneira açodada¿. Para ele, a abertura de apuração teria o objetivo de esclarecer ainda mais os pontos que Sarney mencionou no discurso que fez no plenário do Senado.

As conversas nos bastidores serão intensas. Ontem, um grupo de senadores governistas se preparava para tentar demover Mercadante de seguir com esse pedido de investigação. Juntaram até exemplos para explicar a ele que essas apurações têm pouco reflexo eleitoral. Basta lembrar que personalidades destacadas em CPIs tiveram dificuldades na hora de enfrentar as urnas, caso de Jarbas Passarinho (PDS-PA), Amir Lando (PMDB-RO) e Denise Frossard (PPS-RJ).

Trunfo Se os argumentos não funcionarem, o PMDB acredita que tem nas mãos um trunfo: o tamanho da sua bancada no Senado, fundamental para manter o controle da CPI da Petrobras e segurar outras frentes contra o governo nas comissões técnicas da Casa. Isso sem contar a votação de projetos importantes, como o marco regulatório do pré-sal. Pressionado por todos os lados, Mercadante conseguiu desagradar também à oposição. Os tucanos, por exemplo, acham que ele fez chacota com a nota dos oposicionistas que pediu o afastamento de Sarney na semana passada. Os democratas, idem. Ontem à noite, contudo, o PSDB ainda deveria conversar com Mercadante para tentar sondar a real disposição do PT, cada vez mais mergulhado na angústia entre ser governo e agradar à parcela da opinião pública que pede uma ação mais contundente em defesa das investigações das denúncias.

Quem percebeu esse dilema e tratou de tirar proveito dele foi o senador Pedro Simon (PMDB-RS). Ontem, na tribuna do Senado, fez um passeio pela história petista. Lembrou que o PT, contrário à eleição indireta, expulsou quem votou a favor de Tancredo Neves no colégio eleitoral em janeiro de 1985, não votou a Constituição de 1988 e ficou contra o Plano Real em 1993. ¿Agora, para surpresa da surpresa, os homens da mais absoluta confiança são o doutor Sarney e o doutor Renan Calheiros¿, disse Simon. Assim como os oposicionistas, Simon vai deflagrar um movimento a fim de deixar o PT cada vez mais constrangido ao lado de Sarney. Na quinta-feira, por exemplo, no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), está previsto um ato pela ética no Senado, onde alguns pretendem empreender o ¿fora Sarney¿. Tem gente apostando que o PT, que sempre esteve afinado com esses movimentos, esteja numa fossa danada por ficar fora dessa foto.

Quatro recursos O Conselho de Ética do Senado recebeu ontem quatro recursos contra decisão de seu presidente, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), de arquivar as representações contra Sarney. Um do PSol questiona a ¿suspeição¿ de Duque, identificada ¿ segundo o partido ¿ no fato de ele não ter submetido a representação ao conselho e por ter feito declarações públicas depreciando a iniciativa de responsabilizar Sarney pelos atos secretos. O PSDB recorreu contra três denúncias: a dos atos secretos, a do desvio de recursos da Petrobras doados à Fundação José Sarney e, ainda, pelo fato de Sarney ter negado sua responsabilidade na gestão administrativa da fundação. Duque tem agora cinco dias para convocar o Conselho a votar esses recursos.