Título: Não há essa dicotomia de dilmista ou lulista
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Fonte: O Globo, 12/06/2011, O País, p. 14

PÓS-PALOCCI

Presidente do PT diz que partido não derrubou Palocci e nega descontentamento por Gleisi Hoffmann não ser ligada a Lula

O presidente do PT, o paulista Rui Falcão, isenta o PT de responsabilidade na queda de Antonio Palocci, até então o ministro mais poderoso do governo Dilma. Palocci será um paulista a menos na Esplanada dos Ministérios, e partiu de seu partido, o PT, a maior pressão para que apresentasse explicações sobre o crescimento de seu patrimônio. Falcão concorda que a queda de Palocci significa um recomeço, uma nova etapa do governo Dilma. Ao mesmo tempo, diz que o episódio não interferiu no andamento do governo. Em entrevista ao GLOBO, na sede do PT em Brasília, Falcão minimiza as críticas sobre a escolha de Gleisi Hoffmann para a Casa Civil, que teria descontentado o partido, por ela não ser ligada a Lula.

Maria Lima e Vivian Oswald

Vocês foram surpreendidos pela escolha de Gleisi Hoffmann pela presidente Dilma?

RUI FALCÃO: De maneira nenhuma! A escolha dos ministros é feita pelo presidente da República, do mesmo modo que os governadores escolhem secretários. Não há dicotomia de que ela (a nova ministra) seja dilmista ou lulista. O presidente Lula tem reiterado que só participará quando chamado. Disse que, quando houver divergência entre ela e ele, a presidente Dilma sempre terá razão. O presidente Lula, com relação aos governadores ou ao PT, sempre teve tratamento muito respeitoso, procurando ouvir, dialogando, nunca impôs nada. Vale também para a nossa presidente.

Avalia a escolha de Gleisi como marca que Dilma quer imprimir? Sem ser nome de Lula?

FALCÃO: O estilo dela já foi mostrado desde o primeiro dia de governo: autoridade, capacidade política, experiência de gestão, compromisso.

A queda de Palocci e a troca do Luiz Sérgio são um recomeço?

FALCÃO: Sim. Uma nova fase se inicia na Casa Civil com a nomeação da ministra Gleisi Hoffmann. Ela terá tarefas diferentes das que teve Palocci. Ela já disse que terá seu meio próprio de fazer articulação com os ministérios, acompanhando programas. Falou de junção de política com gestão, técnica com gestão. Não há possibilidade de alguém na Casa Civil não fazer política também. Pode não fazer a relação direta com o Congresso, por questão de divisão de trabalho com a Secretaria de Relações Institucionais, mas Casa Civil tem também função política. A ministra Gleisi tem qualidade para isso.

Acha que Michel Temer pode assumir a articulação política?

FALCÃO: Ele tem contribuído bastante para ajudar a dar mais solidez à base do nosso governo. No PMDB ele tem essa unidade fundamental .

A crise Palocci terminou?

FALCÃO: Não acredito que existisse crise. Houve um momento de tensão e exploração política em torno das atividades do ministro Palocci que deu fôlego para a oposição, que não tem rumo e está sem bandeiras. A oposição foi instada por setores da imprensa a fazer oposição.

A oposição diz que quem desestabilizou Palocci foi o PT.

FALCÃO: Não. O PT tem muitos líderes, figuras públicas que se manifestam. Mas não houve manifestação do PT como partido pedindo a saída do ministro. Ao contrário, em todos os momentos a decisão cabia à presidente Dilma e o partido tomou conhecimento das informações que ele nos enviava e eu, pessoalmente, como presidente do partido, sempre hipotequei solidariedade e confiança.

O PT não ajudou a derrubá-lo?

FALCÃO: De maneira nenhuma!

O governo sai fragilizado?

FALCÃO: Não. O governo não foi fragilizado porque nenhum programa foi interrompido e nenhuma medida foi paralisada. Durante certo período o foco da presidente teve que se voltar para a questão que a oposição explorou, e o ministro Palocci se viu na obrigação de ficar dando explicações. Mas não houve uma crise que provocou o enfraquecimento do governo.

Que lição políticos com cargos no governo devem tirar?

FALCÃO: Não tenho idade nem para dar conselhos ao Palocci, nem ele para me aconselhar...

Não para ele, mas em geral. Há alguma lição a se tirar?

FALCÃO: Talvez você devesse perguntar isso a ele.

Como será sem o Palocci?

FALCÃO: O governo tem maioria na Câmara e no Senado. O ministro está sendo substituído por uma pessoa com experiência de gestão, capacidade política, uma senadora experiente.

A presidente perde cacife para manter este bom desempenho dos primeiros meses?

FALCÃO: Acho que não. Há outros indicadores favoráveis, possibilidades de manutenção do crescimento econômico, o alto nível dos investimentos em áreas estratégicas, com potencial de geração de empregos, ampliação do mercado interno e aumento de exportação. Nosso país continua com grande atratividade. Os números do semestre vão nesta direção. É um governo que tem potencial.

Acha que São Paulo perde espaço no governo?

FALCÃO: Nosso governo nunca foi composto medindo o peso deste ou daquele estado. Não é bairrista, nem o estado de São Paulo através do PT ou de outros partidos reivindicou fatias do governo. Como presidente do PT, nascido em São Paulo, não acho que o estado tenha perdido nada. Antes se dizia que São Paulo tinha muito espaço no governo. Não ouvi de ninguém de São Paulo a reclamação (de perda de espaço).

oglobo.com.br/pais