Título: Unir o PT também deve ser preocupação
Autor: Benevides, Carolina
Fonte: O Globo, 12/06/2011, O País, p. 12

Segundo especialistas, presidente precisa ainda fazer política

Além de tomar as rédeas da coordenação política, Dilma terá, de acordo com cientistas políticos, que se preocupar em unir o PT. Para Emil Sobottka, da PUC-RS, vai ser mais complicado lidar com os petistas do que com o PMDB:

- O Luiz Sérgio já vinha sendo fritado dentro do partido. O PT está insatisfeito e sabe jogar mais duro que o PMDB. Como a Ideli (Salvatti, nova ministra de Relações Institucionais) tem um estilo pitbull, diferente do Palocci, que sabia engolir sapo, a tendência é o PT radicalizar, é dar o troco logo. O PMDB gosta de deixar esfriar, gosta daquela história de vingança ser um prato que se come frio.

Ricardo Ismael, da PUC-Rio, concorda com Sobottka, mas vai além: diz que Dilma não pode ser presidente e não fazer política.

- Na crise Palocci, o PT lavou as mãos. Ela precisa ter uma conversa com o partido e fazê-lo entender que o governo é dela e não do Lula. O ex-presidente não pode ter a função de unir o partido no governo Dilma. A verdade é que não dá para ser presidente e não fazer política, Dilma não pode ficar submissa ao partido - diz Ricardo Ismael.

Saída de Palocci pode beneficiar presidente

Na visão de Fernando Abrucio, professor da FGV-SP, o principal agora é acalmar os ânimos na Câmara.

- No Senado, a base governista é maior. Sarney (José Sarney, presidente do Senado) tem ligação direta com Dilma, e o PT tem um tamanho razoável. Mas na Câmara está um caos, e os parlamentares se sentem órfãos do governo. Então, o importante é que o escolhido para a articulação política saiba lidar com a Câmara, e que a Dilma saiba como agradar ao PT, ao PMDB e aos aliados. Se os partidos não ficarem contentes, não se governa.

A saída de Palocci, segundo Cesar Romero Jacob, pesquisador da PUC-Rio, pode ser transformada numa boa oportunidade para Dilma se aproximar dos partidos:

- No governo Lula, a saída do Dirceu (José Dirceu, ministro da Casa Civil), que tinha a liderança da máquina, foi o que permitiu que Lula exercesse o mandato com mais plenitude. Agora, pode acontecer o mesmo com a Dilma. Se ela souber ocupar o espaço político e não apenas delegar, isso pode ser bom. Ainda mais porque a Gleisi não tem o peso do Palocci, assim como o Luiz Sérgio não tinha. É hora de Dilma ter o governo nas mãos.

Nesse momento, também será fundamental, de acordo com os especialistas, que Dilma encontre um nova maneira de lidar com Lula.

- Dar conselho é natural, e o ex-presidente tem um capital político do qual ela não pode se distanciar, mas é ruim quando aparece de forma explícita e faz parecer que Dilma precisa dele para governar - diz Abrucio.