Título: Especialistas alertam para risco de PMDB forte
Autor: Benevides, Carolina
Fonte: O Globo, 12/06/2011, O País, p. 12

PÓS-PALOCCI

Partido tentará ganhar mais espaço se perceber vácuo, dizem, e por isso Dilma tem que cuidar mais da política

As rusgas do governo com o PT e o PMDB, que ajudaram a derrubar Antonio Palocci (PT-SP) da Casa Civil e forçaram a ida de Luiz Sérgio (PT-RJ) das Relações Institucionais para a Pesca precisam ser enfrentadas logo pela presidente Dilma Rousseff, dizem especialistas.

Professor da PUC-Rio, Ricardo Ismael diz acreditar que o PMDB continuará tentando ganhar espaço, mas afirma que é hora de Dilma passar a ter tempo na agenda para articular politicamente:

- Dilma terá que arrumar tempo para receber deputados, prefeitos, senadores. Se não agir, o PMDB vai continuar vendo que há um vácuo, dará mais e mais trabalho, e o governo será engolido pela política. Não funciona ser só primeira-ministra; sendo presidente, ela tem que lidar com a política.

Alguns criticam a escolha da ex-senadora Ideli Salvatti (PT-SC) para o lugar de Luiz Sérgio, responsável pela articulação política com os partidos aliados, a oposição e o Congresso.

- Não havia pessoa mais imprópria para assumir a articulação política do que a Ideli, que não se destacou no Senado pela capacidade de articulação. Ela se caracterizou pela mão pesada não só com a oposição, mas também com a base aliada. Não acredito que ela e a Gleisi (Hoffmann, nova ministra da Casa Civil) ajudem. Há um problema político dentro do governo e no Congresso - diz Marco Antonio Villa, cientista político e professor da Universidade Federal de São Carlos.

- Sabemos que Dilma tem perfil técnico, mas para ser presidente é preciso também tomar decisões políticas. Ela deixou que o Luiz Sérgio virasse menino de recado, o Palocci a ajudava a decidir, e Dilma tem mostrado que não é hábil na negociação política e nem na hora de escolher quem vai articular. Ideli não tem a capacidade de negociação que seria necessária nesse momento de crise - diz Emil Sobottka, professor de Ciência Política da PUC-RS.

Para ele, a decisão da presidente de convidar Ideli para a pasta de Relações Institucionais, assim como a de demitir Palocci e nomear Gleisi Hoffmann, sem consultar o PMDB, principal aliado do governo, não ajuda. Na semana passada, peemedebistas e petistas tinham chegado a um acordo e apoiariam o nome de Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder do governo na Câmara, para a pasta. Mas Dilma agiu logo e dobrou o PT da Câmara.

- Não ser consultado fará com que o PMDB continue reclamando. Mas também seria difícil administrar o partido se a Dilma acatasse o desejo de participação na escolha - diz Sobottka. Para a troca de Luiz Sérgio por Ideli, porém, Dilma conversou com o PMDB.