Título: Crise expôs divisão interna no PT, que quer ser ouvido sobre governo
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 12/06/2011, O País, p. 4

PÓS-PALOCCI

Partido negou apoio a Palocci mas diz que não há um racha na legenda

SÃO PAULO. Paralelamente ao discurso uníssono de que não há crise no PT, embora indisfarçável no caso da queda do ministro Antonio Palocci, petistas desejam pressionar a presidente Dilma Rousseff para que ela discuta mais suas decisões com a cúpula partidária. O perfil centralizador de Dilma não agrada a integrantes da legenda. O clima azedou com a demora da presidente para dar solução ao caso Palocci, e a partir de agora a ideia em diferentes esferas do partido é tentar reforçar o canal de diálogo de Dilma com núcleos de base, que já vêm registrando dissidências.

- O governo deveria ter uma relação mais intensa e cotidiana com o partido. A base do PT não está no cotidiano do governo, que, com isso, vai acabar se fechando numa situação de poucos ouvidos e se distanciando da realidade - diz o deputado Raul Pont (RS).

Em recentes reuniões do Diretório Nacional, antes mesmo da chamada crise Palocci, segundo ele, integrantes do PT têm exigido maior abertura nas discussões de governo.

- Não creio em problemas na relação do PT com o governo no Congresso, mas um distanciamento institucional é possível, o que é ruim para os dois lados - avalia ele:

- Tenho até recebido e-mails de correligionários que estão deixando o partido em razão da forma como o governo conduziu o episódio envolvendo o ex-ministro da Casa Civil. Digo que foi apenas uma crise, mas as pessoas estão insatisfeitas.

Internamente, no entanto, impera a tese de que o PT manterá fidelidade a qualquer projeto do governo que tramitará no Congresso, mas com uma preocupação: o PT não pode virar um partido de gabinete, com espaço notório dedicado apenas a figuras de primeiro escalão, muitas em situações desconfortáveis política ou juridicamente, como ocorreu com Palocci.

Se nas fileiras internas essa discussão ganha corpo, publicamente adota-se outro tom:

- Não há qualquer ambiente de crise no partido, que apoia Dilma incondicionalmente. Não há divisão, o que existe são posições divergentes, que são legítimas e não configuram luta de poder. O que acontece é que o PT manifesta opinião com mais frequência do que qualquer outro partido - minimiza o deputado Ricardo Berzoini, ex-presidente nacional do PT.

A ferida no PT foi exposta no governo Dilma quando a Executiva Nacional decidiu não manifestar apoio publicamente a Palocci. Logo uma operação foi deflagrada na tentativa de dar amparo institucional ao ministro, que perdeu força também no Senado. A senadora Marta Suplicy buscou adesão ao manifesto pró-Palocci, o que não avançou. Procurada, sua assessoria de imprensa deixou claro que o racha no partido é evidente.

- Esse é um assunto indigesto para a senadora - disse um de seus assessores.

Chamou a atenção, nos debates, a ausência do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, há 15 dias em viagem oficial à Espanha, quando passou ao largo da crise.

oglobo.com.br/pais