Título: Após seis meses, Dilma monta equipe mais focada na gestão
Autor: Jungblut, Cristiane; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 12/06/2011, O País, p. 3

Com suas últimas escolhas, presidente sinaliza que priorizará meritocracia

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff conseguiu, em meio à mais grave crise de seu governo, fazer o que ninguém imaginava: reforçou o perfil administrativo da equipe palaciana com a nomeação da senadora Gleisi Hoffmann para a Casa Civil, sinalizando para o Congresso que nem sempre se dobrará a pressões. Ciente de que não tem a mesma popularidade do antecessor, a presidente parece mais à vontade para moldar o governo à sua imagem e semelhança, mostrando que priorizará mais a meritocracia do que a política na composição do Ministério, que deverá ter como foco principal a gestão das políticas públicas.

A nova chefe da Casa Civil demonstrou, nos cinco meses no Senado, afinidade com o Planalto e preocupação com o controle de gastos públicos, reforçada entre os 18 projetos que apresentou como senadora. Num deles, propôs que fosse vedada a extensão para suplentes da ajuda de custo concedida a parlamentares em início e fim de mandato. Em outro, propôs a regulamentação do teto salarial do funcionalismo, que vem garantindo a servidores e pensionistas vencimentos superiores aos salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal, hoje em R$26,7 mil.

Gleisi se somará a Dilma e à ministra do Planejamento, Miriam Belchior, na tarefa de agilizar os programas governamentais. Para isso, deverá se valer da experiência como secretária de Planejamento de Mato Grosso do Sul e de Gestão Pública na Prefeitura de Londrina, além das atividades como diretora financeira de Itaipu.

- O governo toma a cara de Dilma. Temos quatro mulheres mandando: Dilma, a loura (Gleisi), Ideli e Miriam Belchior. O resto é secundário - resume o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

Mudanças começam a decifrar o estilo Dilma de governar

As mudanças feitas, de forma solitária, na Casa Civil e nas Relações Institucionais começam a decifrar o estilo Dilma de governar. Ela deixou claro que não hesitará em mostrar autoridade.

- O desfecho nesses dois ministérios reforça a autoridade da presidente. Ela não pretende se dobrar às pressões políticas e mostra que seu governo será o governo da gestão e da meritocracia - afirma o senador Delcídio Amaral (PT-MS).

O novo núcleo duro do governo passa a ser composto quase que exclusivamente por mulheres. Todas demonstram temperamento forte e pouca paciência quando contrariadas. Mas são extremamente leais e determinadas, o que poderá garantir novo ritmo à gestão governamental, como quer a presidente.

Duas horas depois de tomar posse, quarta-feira, Gleisi já havia convocado dois antigos colegas da bancada petista - Lindbergh e Delcídio - para um primeiro contato, sinalizando que não pretende perder a comunicação com o Legislativo, embora tenha sido designada por Dilma para cuidar mais da gestão do governo. Gleisi já elegeu uma de suas prioridades: cuidar pessoalmente das negociações para a votação do Código Florestal no Senado. Sua preocupação é que a derrota do governo na Câmara não se repita no Senado.

No primeiro dia na Casa Civil, reunião com os colegas de Planejamento, Meio Ambiente e Secretaria Geral da Presidência. Antes, porém, teve uma longa conversa com a presidente para tentar definir os limites até onde poderá avançar.

Dilma tem afirmado que pretende melhorar a rede de serviços públicos e a infraestrutura do país, gastando menos. Uma das estratégias é melhorar a gestão pública. No mês passado, Dilma instalou a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, presidida pelo empresário Jorge Gerdau Johannpeter, do Grupo Gerdau. A câmara tem como missão sugerir propostas para modernizar o Estado, tornando o país mais competitivo no cenário internacional, além de propor mecanismos para melhorar a qualidade dos serviços públicos, reduzir custos e racionalizar processos.

Caberá à Casa Civil oferecer apoio técnico e logístico à Câmara de Gestão, que terá função de assessoramento da presidente na tarefa de integrar as estratégias federais de desenvolvimento social com redução das desigualdades, promoção do equilíbrio fiscal e desenvolvimento econômico sustentável. A Câmara terá quatro representantes da sociedade civil: além de Gerdau, Abílio Diniz (dono da Companhia Brasileira de Distribuição), Antônio Maciel Neto (presidente da Suzano Papel e Celulose) e Henri Philippe Reichstul (ex-presidente da Petrobras - 1999/2001). Os representantes do governo são os ministros da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; da Fazenda, Guido Mantega; do Planejamento, Miriam Belchior; e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel.