Título: Recomeço com nova cara
Autor: Jungblut, Cristiane; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 12/06/2011, O País, p. 3

PÓS-PALOCCI

Com mudanças na equipe, governo investirá para melhorar relação com Congresso e focar na gestão

Ciente de que os problemas de articulação política de seu governo não acabam com a saída de Antonio Palocci e de Luiz Sérgio, a presidente Dilma Rousseff e sua nova equipe palaciana - formada pelas ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Secretaria de Relações Institucionais) - terão de garantir novo ritmo às ações federais e resolver "gargalos políticos" que estavam obstruídos na Casa Civil. Para começar, será essencial que o governo encaminhe demandas represadas de aliados, para que Ideli se consolide no cargo mostrando serviço: fazendo nomeações para cargos federais nos estados e liberando emendas parlamentares apresentadas ao Orçamento da União ainda no ano passado.

Interlocutores do governo garantiram que nomeações para cargos de segundo e terceiros escalões devem ganhar as páginas do Diário Oficial da União a partir de amanhã. Na avaliação desses aliados, Ideli dará visibilidade a questões que estavam sendo negociadas e estavam à espera do aval de Palocci, que não vinha.

A promessa é que, a partir de julho, haja um calendário de liberações das emendas do Orçamento de 2010, já que as de 2011 foram anuladas. Desde o início do ano, mesmo com os cortes no Orçamento de 2011, o governo já liberou, dos orçamentos de 2008 e 2009, mais de R$750 milhões. Mas o estoque de emendas aprovadas no Orçamento ultrapassa R$10 bilhões.

Mais dependente do PMDB, que na crise se mostrou fiel mas exigente, e com o desafio de reunificar o PT na Câmara, Dilma terá que agir com rapidez. Ideli já começou a procurar parlamentares de confiança para pedir ajuda. A intenção é ter um grupo de colaboradores, muitos da época em que foi líder do governo no Congresso, para dialogar com Câmara e Senado.

A primeira mexida no primeiro escalão do governo Dilma deve se limitar à da semana passada, por enquanto. Mudanças mais profundas virão numa segunda fase, provavelmente no fim do ano, quando ampliará o leque de ministros "com sua cara" - como Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti.

Com a gestão do governo sob controle, mesmo durante a crise, o desafio de Dilma nas próximas semanas é a arrumação política. Para comandar o trabalho, além dela própria, que promete continuar os almoços com aliados, contará com Ideli e com o vice-presidente Michel Temer.

O grupo palaciano sabe que não terá como fugir da pressão por cargos e emendas. A questão, dizia um dirigente petista sexta-feira, "é saber se esse bando de mulher brava vai conseguir negociar com partidos da base e resolver suas demandas a contento". Se isso não acontecer, acrescentou: "Vai ser uma encrenca."

Na terça-feira, quando se definia a saída de Palocci, petistas reclamavam que nem o Incra - responsável pela questão agrária - tinha preenchido cargos do segundo escalão.

No mesmo tom, líderes de outros partidos da base se queixavam, na semana passada, de que a defesa que fazem do governo não era retribuída. Eles esperam que Ideli tenha poder e não sirva apenas para atender a pedidos, como se referiam a Luiz Sérgio. Até o temperamento forte de Ideli é lembrado nessa hora.

- Ela não vai ficar de enfeite no cargo - resumiu o senador Delcídio Amaral (PT-MS). - Vai agir, e com respaldo.

Outra tarefa fundamental para que o governo não seja surpreendido é acompanhar projetos no Legislativo e evitar novas derrotas. Na próxima semana, deverá ser dada atenção especial à negociação de novo acordo para a proposta de emenda constitucional (PEC) que altera o rito de tramitação das medidas provisórias. A falta de um articulador político que funcionasse levou o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), a fechar acordo em favor da aprovação do substitutivo do senador Aécio Neves (PSDB-MG) na Comissão de Constituição e Justiça - considerado "um horror" por Dilma.

Nem todos otimistas com nova equipe palaciana

Além disso, o governo não poderá se descuidar das negociações em torno do texto do Código Florestal se quer evitar que a derrota sofrida na Câmara se repita agora no Senado. Na Câmara, o desafio imediato é aprovar a medida provisória 527, já que o governo quer incluir nela as novas regras de licitações para a Copa.

Até agora, os senadores e deputados mais experientes da base vinham "segurando as pontas" e agindo como achavam que o governo gostaria. Entre eles, o senador Walter Pinheiro (PT-BA) e o deputado Gilmar Machado (PT-MG), que têm atuado para garantir a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias e depois o Orçamento de 2012 - sem qualquer orientação específica.

Assumiram a tarefa por inércia, porque o cargo de líder do governo no Congresso está vago há cinco meses. O deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) foi anunciado para a vaga, mas sua atuação na votação do Código Florestal desagradou à presidente, que suspendeu a nomeação.

Alguns governistas não escondem o pessimismo com a nova equipe montada por Dilma, reforçada com a escolha de Ideli, considerada "truculenta". Dilma percebeu que terá de atuar diretamente na política e não poderá prescindir da ajuda do vice-presidente Michel Temer.

- O Michel tem sido o único interlocutor do PMDB no governo - dizia o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Casa, na qual aportam problemas para o governo toda semana.

oglobo.com.br/pais