Título: Foi difícil fazer mudanças?
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 12/06/2011, Rio, p. 28
HIDALGO: Levou tempo. Mas é preciso vontade politica para fazer. De 2001 a 2008, financiamos 30 mil novas habitações sociais em Paris. De 2008 a 2014, haverá mais 40 mil habitações sociais, seja em construções novas ou não. Em alguns casos, a prefeitura comprou prédios inteiros para transformá-los em habitação social e manter uma população que seria rechaçada. Nosso projeto político é que a cidade seja mista no plano social.
Como funcionam as habitações sociais em Paris?
HIDALGO: Dependendo da renda da pessoa, há três categorias de habitação social: uma para as pessoas muito desfavorecidas, que vivem graças à ajuda do estado ou da cidade. Das 70 mil habitações que teremos até 2014, estas pessoas vão se beneficiar de um terço. Com a ajuda, o preço pode ser reduzido para 11 euros o metro quadrado. Uma segunda categoria, que se beneficiará de outro terço destas habitações, são as classes médias baixas, como a professora, o empregado de escritório, os lixeiros da cidade, que trabalham mas têm uma renda baixa, em torno de salário mínimo. Estas pessoas vão pagar entre 12 euros a 14 euros o metro quadrado, e ainda vão receber uma ajuda à habitação dada pelo Estado. A prefeitura acrescenta uma ajuda às mulheres sozinhas com crianças. Isso permite que estas pessoas vivam em Paris.
E a terceira categoria a se beneficiar?
HIDALGO: Esta terceira categoria ganha melhor, entre 3 mil a 4 mil euros por mês por casal com crianças. Em Paris, com este salário, não se consegue morar confortavelmente numa habitação privada. Neste caso, a ajuda permite um aluguel em torno de 18 euros a 20 euros o metro quadrado. Estas pessoas não têm ajuda do Estado, mas o preço que vão pagar pelo aluguel sera 25% a 30% mais baixo do que o preço de mercado.
Como é a distribuição?
HIDALGO: É difícil, porque a demanda é muito grande. Criamos um sistema de distribuição transparente para que não haja clientelismo. Antes de 2001 (quando os socialistas chegaram ao poder em Paris), o prefeito dava apartamento para quem ele quisesse. Nós criamos uma comissão, da qual fazem parte eleitos da direita e da esquerda, assim como associações que se ocupam de problemas de habitação. A cada semana, a comissão se reúne, examina os dossiês e decide.
Qual o seu conselho para cidades como o Rio?
HIDALGO: Não cabe a mim dar conselhos, porque cada cidade tem sua particularidade. Mas acho que é preciso evitar fazer cidades com zonas muito diferentes. Os que pensam que podem conter as pessoas em função de sua renda vão ter problemas de segurança. A solução para as cidades é fazer pessoas de culturas e níveis de vida diferentes viverem juntas. Uma cidade mista me parece uma condição sine qua non para segurança.