Título: Falta vontade política
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 11/06/2011, Economia, p. 45

TÂNIA DORNELLAS

Está mais difícil combater o trabalho infantil feminino do que o masculino. O diagnóstico é da presidente do Instituto Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, Tânia Dornellas, que chamou a atenção sobre essa característica do país.

O trabalho infantil no país corre mesmo o risco de não ser erradicado dentro das metas mundiais estipuladas, como vem alertando a OIT?

TÂNIA DORNELLAS: Sim, corremos este risco. E a palavra-chave é vontade política. Já há algum tempo nosso país já acumulou as condições necessárias para erradicar algumas das piores formas de trabalho infantil, sobretudo as mais perigosas. Mas o que se percebe é que a decisão política de combater o trabalho infantil ainda está aquém da necessidade. Caso o Brasil não tome medidas urgentes no sentido de enfrentar o problema de frente, não atingiremos a meta nem de redução do trabalho infantil nem de suas formas mais perigosas.

Os meninos lideram as estatísticas mundiais de trabalho infantil perigoso. O Brasil também vem seguindo essa tendência ou está indo na contramão?

TÂNIA: Aqui há diferenças de gênero quando se contrasta o trabalho de meninos e de meninas. Podemos perceber que há uma diminuição da porcentagem do trabalho de meninos numa velocidade e percentuais superiores ao das meninas. Isso é bastante preocupante, porque muitas vezes essas meninas estão invisíveis nos lares ou exercendo trabalho infantil doméstico. Isso sem falar na prostituição.

A senhora considera que as políticas públicas adotadas são suficientes ou estão aquém do problema?

TÂNIA: Precisamos quantificar e ampliar a abrangência das políticas de combate ao trabalho infantil e de proteção às crianças. E ampliar a oferta da educação integral, como estratégia de prevenção e proteção das crianças retiradas do trabalho precoce. Como o Brasil vai sediar a 3ª Conferência Global sobre Trabalho Infantil, em 2013, é fundamental que adotemos ações mais articuladas, de forma a otimizar as estratégias de enfrentamento do problema.