Título: Trabalho infantil de risco atinge 115 milhões
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 11/06/2011, Economia, p. 45

A cada minuto, uma criança ou jovem sofre acidente, dano psicológico ou adoece por estar trabalhando

A cada um minuto durante o dia, no Brasil ou em qualquer outro país, uma criança ou adolescente sofre um acidente, fica doente ou é acometido por um trauma psicológico porque estava trabalhando. Dos 215 milhões de crianças e jovens envolvidos com o trabalho infantil, 53% deles exercem funções perigosas. São ao todo 115 milhões de trabalhadores, de 5 a 17 anos, ocupados nos países desenvolvidos e nos em desenvolvimento. A predominância é de mão de obra masculina, que domina 60% das estatísticas mundiais. Às vésperas do Dia Internacional contra o Trabalho Infantil, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou ontem em Genebra, na Suíça, o relatório "Crianças em trabalhos perigosos: o que sabemos, o que precisamos fazer".

Crise global deteriorou as relações de trabalho

É consenso que a crise global deteriorou ainda mais as relações de trabalho que e o mundo passou a correr o risco de não cumprir as metas de erradicação do trabalho infantil até 2020, assim como a eliminação do trabalho infantil perigoso até 2016. A agricultura lidera a lista de trabalho infantil perigoso, devido à exposição aos agrotóxicos. Outras formas degradantes, especialmente no Brasil, são o envolvimento com a indústria do fumo, tráfico de drogas, prostituição, trabalho doméstico e lixões.

- Apesar do esforço que o Brasil tem feito, estamos correndo o risco de não cumprir as metas - diagnostica Renato Mendes, coordenador de projetos da OIT, comentando que a entidade aproveitou a presença dos ministros do Trabalho, da Igualdade Racial e dos Direitos da Mulher em Genebra para sugerir que o IBGE aprimore os cálculos e inclua trabalho infantil perigoso nas suas estatísticas.

Brasil estagnou no combate ao trabalho infantil

Ainda que o país não quantifique o trabalho infantil perigoso, é possível inferir, diz Mendes, que o Brasil vem seguindo a tendência mundial. Metade da população envolvida com trabalho infantil exerce funções perigosas. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, o trabalho infantil no Brasil empregava 4,2 milhões de crianças e jovens em 2009. Logo, conclui Mendes, cerca de 2,2 milhões estão no trabalho infantil perigoso.

A secretária-executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, Isa Oliveira, avalia que o país não vem avançando no combate ao trabalho infantil. De acordo com ela, "estamos estagnados". E a principal razão, diz, é que as políticas públicas, como o Bolsa Família, não fiscalizam nem monitoram o trabalho infantil:

- Apesar de o fim do trabalho infantil ser uma das condicionantes para o Bolsa Família, não há fiscalização. Logo, a conclusão é que não basta transferir renda, é preciso envolver as esferas de governo.

O maior número de crianças em trabalhos perigosos está na Ásia e no Pacífico. Na América Latina, 6,7% de crianças e jovens estão envolvidos com algum tipo de trabalho infantil perigoso, o que soma 9,4 milhões de pessoas.