Título: Crédito mais restrito e inflação fazem varejo ter primeira queda em 11 meses
Autor: Durão, Mariana
Fonte: O Globo, 11/06/2011, Economia, p. 39

Equipamentos de informática e escritório tiveram o maior recuo: 13,6%

As medidas de contenção ao crédito, a elevação da taxa básica de juros e a alta da inflação começam a ter reflexos em mais indicadores econômicos. As vendas do comércio varejista recuaram 0,2% de março para abril, em volume, no primeiro resultado negativo nos últimos 11 meses, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), informou ontem o IBGE. Dos oito segmentos da pesquisa, em cinco houve queda nas vendas, com destaque para Equipamentos e material para escritório, onde estão incluídos os computadores, cujo recuo foi de 13,6%. No ano, as vendas estão em alta de 7,6% e, em 12 meses, 9,5%.

- Como viemos de 11 meses de taxas positivas, pode ser uma acomodação do crescimento. Ou também reflexo das medidas tomadas pelo governo para a contenção do crédito e do fantasma da inflação, inibindo a demanda - diz Reinaldo Pereira, gerente da pesquisa do do IBGE.

Houve queda ainda nos setores de combustíveis (-1,6%), livros e revistas (-2%), e vestuário e calçados (-3,2%).

- Parte do recuo do comércio pode ser explicado pela alta dos preços, que reduz a renda real do trabalhador. Ainda que a inflação na margem já mostre sinais de desaceleração, a inflação acumulada ainda deve puxar as vendas reais para baixo por mais algum tempo - diz Felipe Franca, economista do banco ABC Brasil. O banco projetava recuo maior do comércio em abril: 0,5% sobre março

Em relação a 2010, vendas subiram 10%

Na comparação com abril do ano passado, as vendas avançaram 10%. O crescimento de dois dígitos sobre as vendas de abril de 2010 é explicado pela Páscoa. Como em 2010 o feriado caiu no início de abril, o consumidor concentrou as compras em março. Neste ano, houve o efeito inverso. O calendário favorável ajudou a elevar em 10,4% as vendas de supermercados e hipermercados sobre um ano antes. O grupo teve o principal impacto na formação da taxa de varejo sobre abril passado, respondendo por 51,4%. O segundo maior impacto veio de móveis e eletrodomésticos (30%), que se destacam no ano. As vendas do segmento subiram 19,3% frente abril e 1,7% ante março.

- Além da estabilidade no emprego e aumento de salários, houve deflação em aparelhos eletrônicos (-6% nos 12 meses, pelo IPCA) - diz Pereira.

No varejo ampliado, que inclui as atividades de Veículos e peças e de Material de construção, houve aumento de 1,1% no volume de vendas frente a março e de 11,8% sobre o ano passado. As vendas de veículos e peças continuam em alta (1,7%) no mês, mas abaixo do ritmo de vendas de março (4%). Em relatório, o Itaú diz que uma reação no comércio de veículos era esperada, após a fraqueza gerada pelas medidas de contenção de crédito. Para o banco, os sinais opostos no varejo restrito e ampliado não alteram a tendência de desaceleração no varejo em 2011, resposta às medidas fiscais e monetárias de contenção de demanda.