Título: PM coloca a tropa de prontidão para passeata
Autor: Costa, Ana Cláudia; Gerbase, Fabíola
Fonte: O Globo, 11/06/2011, Rio, p. 22

Libertação dos bombeiros muda tom da manifestação em Copacabana: grupo quer agradecer apoio da população

BOMBEIROS PRESOS no quartel de Charitas, em Niterói, se reúnem para comemorar a decisão da Justiça, que mandou libertar os militares

O comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, decidiu colocar toda a tropa de prontidão entre 8h e 14h de amanhã, por causa da manifestação programada pelos bombeiros para as 9h na Praia de Copacabana. O objetivo, segundo nota da corporação, é assegurar a tranquilidade de todas as pessoas que compareçam ao evento. Policiais militares disseram acreditar, porém, que a medida tenha sido tomada para evitar que PMs de folga participem do ato. Com a decisão, os policiais de plantão hoje e que teriam folga amanhã serão mantidos nos batalhões. O pessoal dos setores administrativos foi chamado para trabalhar.

Mantida mesmo depois de a Justiça ter decretado a libertação dos bombeiros presos, a manifestação em Copacabana ganhou outra proposta: agradecer à população pelo apoio, especialmente pelos pedidos de liberdade para os manifestantes detidos depois da invasão do Quartel Central. Policiais civis, professores, artistas e representantes de outros setores da sociedade prometem participar do ato, classificado como pacífico pelos bombeiros.

Cabo diz que acampamento na Alerj deve ser encerrado

Ao tomar conhecimento ontem do habeas corpus concedido aos bombeiros presos, o cabo Laércio Soares, um dos líderes do movimento, disse que agora a categoria poderá negociar melhores salários. Ele acrescentou que, daqui por diante, toda manifestação será de agradecimento à sociedade. A mesma ideia foi ouvida pelo deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ) na visita que fez aos oficiais presos no quartel de São Cristóvão, antes da libertação do grupo:

¿ Eles disseram que manteriam o ato em Copacabana para expressar a gratidão pelo apoio dos cariocas. Os oficiais nos convidaram a participar da manifestação. Agradecemos, mas acreditamos que é melhor evitar um tom político nessa manifestação ¿ disse Molon, que estava acompanhado dos outros dois autores do pedido de habeas corpus, os deputados federais Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) e Aluizio dos Santos Júnior (PV-RJ).

O cabo Laércio Soares informou que o grupo deve desmontar o acampamento em frente à Alerj:

¿ Eles mantiveram os peixes presos no aquário e agora quebramos o aquário. Fizemos o acampamento na Alerj por toda a corporação. Faremos a caminhada programada em agradecimento ao carioca, ao Tribunal de Justiça e aos deputados que se mobilizaram pela causa.

Passeata de professores engrossa movimento

A movimentação em frente à Alerj na tarde de ontem cresceu com a chegada à Avenida Presidente Antônio Carlos de uma passeata de professores estaduais, que reivindicam reajuste salarial. O protesto, que saiu da Candelária, provocou a interdição da avenida.

A notícia da libertação dos bombeiros foi recebida com festa pelos cerca de 50 militares que estavam na Alerj. Eles se abraçaram, choraram e cantaram o hino da corporação. O grupo, em comemoração, chegou a fazer flexões e polichinelos. Abraçados, eles também fizeram uma oração. Ao mesmo tempo, motoristas que trafegavam pela Presidente Antônio Carlos buzinavam. Várias ambulâncias dos bombeiros e do Samu ligaram as sirenes, em sinal de apoio. A libertação fez também a funcionária pública Rose Fernandes, de 42 anos, chorar. Irmã de um guarda-vidas preso em Niterói, ela estava acampada na Alerj desde domingo.

¿ Meu irmão ligou e disse que agora é um homem livre. Foi uma emoção forte ¿ disse.

O grupo passou o dia na Alerj aguardando a chegada dos colegas libertados em Niterói. Por volta das 13h, cerca de 30 policiais civis se juntaram ao grupo, pedindo melhorias salariais. Eles garantiram que, mesmo em número menor, estarão amanhã na passeata em Copacabana.

Congresso já tem 4 projetos de anistia

Deputados e senador apresentaram propostas para perdoar amotinados

Carolina Brígido

BRASÍLIA. O Congresso Nacional começou a se movimentar para garantir anistia aos mais de 400 bombeiros presos por invadirem o Quartel Central da corporação durante uma manifestação por aumento de salário e melhores condições de trabalho. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) apresentou anteontem um projeto de lei para conceder o benefício ao servidores. Na Câmara, segundo o deputado Chico Alencar (PSOL), há três projetos de lei reivindicando o perdão para os bombeiros. Eles foram detidos por ordem do governador Sérgio Cabral, sob a acusação de motim ¿ infração prevista para militares. A categoria está mobilizada desde 1º de julho.

¿É uma luta justa, já que (os bombeiros) recebem uma das piores remunerações do Brasil¿, afirmou o senador na justificativa da proposta. ¿A prisão dos bombeiros foi um equívoco. Os bombeiros são heróis e não podem ser tratados como bandidos. A presente proposta de anistia atende às expectativas da população do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil¿, concluiu.

As iniciativas em defesa da categoria partiram dos deputados Anthony Garotinho (PR), Alessandro Molon (PT) e da bancada do PSOL, liderada pelo deputado Chico Alencar. Os três apresentaram projetos de lei solicitando a anistia.

¿ Há um grande acordo na Câmara e no Senado em torno dessa questão. A anistia certamente será aprovada e será, necessariamente, uma proposta coletiva e suprapartidária ¿ disse Chico Alencar, que passou um abaixo-assinado em apoio aos bombeiros entre todos os deputados.

Apenas o Congresso Nacional tem poderes para anistiar os bombeiros dos crimes dos quais estão sendo acusados. Na Alerj, seis deputados estadual também vão apresentar um projeto de emenda constitucional (PEC), mas para livrar os bombeiros do processo administrativo que será instaurado pelo Corpo de Bombeiros. A corporação poderá decidir até pela expulsão dos manifestantes.