Título: Briguenta, mas fiel
Autor: Lima, Maria; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 11/06/2011, O País, p. 4

Para aliados e oposição, Ideli na articulação é um bombeiro com gasolina num incêndio

BRASÍLIA. Ficar em cima do muro não é com ela. Alvo de adjetivos irônicos ao longo dos anos em que passou por Brasília e especialmente nos últimos dias, a nova ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, é uma camaleoa. Quando precisa, uma leoa. Aos 59 anos, na vida doméstica ou na política a paulista-catarinense não hesita quando se trata das coisas do coração ou de defender um lado, mesmo que tenha de "abraçar o diabo". Como quando, a mando do ex-presidente Lula, usou toda a força do seu cargo de líder do governo no Senado para impedir pedidos de cassação dos aliados Renan Calheiros (PMDB-AL) e do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no auge de seus escândalos.

No Senado, onde passou oito anos, ela recebeu os adjetivos de brigona, arrogante, temperamental. Na oposição, os adversários interpretam a ida de Ideli para a coordenação política como a ida de um bombeiro para um incêndio levando baldes de gasolina. Aliados e adversários podem listar até uma dezena de traços da difícil personalidade da ex-senadora. Mas concordam em uma coisa: seu traço mais marcante é a fidelidade canina ao governo.

A ex-professora iniciou sua militância nos anos 1970, em Joinville (SC), nos movimentos da Pastoral Operária; passou pela fundação da CUT e do PT no estado; chegou ao Senado em 2003 e ocupou todos os cargos de liderança do partido e do governo, além de integrar o Diretório Nacional e a Executiva do PT.

Sua prova de fogo na liderança do governo no Senado, quando sabia que "ia arrebentar" seu projeto de governar Santa Catarina, aconteceu em 2009, quando liderou o bloco governista na operação que resultou no arquivamento das ações contra José Sarney no Conselho de Ética do Senado. Enquanto se queimava, seu adversário, o senador Raimundo Colombo (DEM-SC), votou pelo processo contra Sarney.

- Vou ser triturada politicamente - admitira então.

Não deu outra. Colombo venceu a disputa, em que Ideli, mesmo com a campanha ferrenha de Dilma, ficou num tímido terceiro lugar.

Também na sessão de julgamento do pedido de cassação de Renan, no plenário, Ideli teve papel decisivo na orientação da bancada. Dizia não haver provas de sua culpa.

Nas várias batalhas com a oposição para defender o governo, Ideli enfrentou dificuldades. E foi acusada de encomendar dossiês falsos e forjados contra adversários. Ela também foi bombardeada pelos adversários quando, em companhia de um assessor, foi fazer cursos de imersão em Sevilha, Buenos Aires e Cidade do México, às custas do Senado. Os R$70 mil teriam sido pagos a uma empresa que pertencia a um petista e patrocinava os cursos. Segundo a denúncia na época, a nora da senadora era quem fazia a venda dos cursos para Ideli Salvatti e o assessor. Ideli disse que era uma operação legal, aprovada pelo Senado, como missão oficial.

Nos embates em plenário, viraram folclore as trocas de farpas com os ex-senadores Heráclito Fortes (DEM-PI) e José Jorge (DEM-PE), que se divertiam ao implicar com a senadora.

Outro traço marcante de Ideli é a constante briga com o visual. De quando chegou ao Senado, em 2003, de cabelos ondulados e muitos quilos acima do peso ideal, até ontem, quando apareceu como executiva ministerial muito bem maquiada, tailleur "off white", cabelos alourados e bem escovados, Ideli passou por uma verdadeira transformação.

Uma redução de estômago depois, plásticas, sessões de clareamento nos dentes, luzes no cabelo e renovação completa do guarda roupa, Ideli Salvatti é outra mulher. Ela mesma admitiu que não estava bonita na foto da galeria das senadoras, que pediu para trocar depois da transformação:

- De lá para cá, eu emagreci 40 quilos, fiz um sacrifício danado, e estava feia naquela galeria! - diz a ministra, com hobbies como cantar e desfilar em blocos e escolas de samba.

E Ideli é uma mulher apaixonada, que move mundos e fundos pelo coração. O sacrifício para emagrecer e ficar mais bonita, contou Ideli, foi sustentado pelo 1º sargento e músico da banda do Exército Jefferson Figueiredo, triatleta, seu terceiro marido.