Título: Repescagem
Autor: Gois, Chico de; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 11/06/2011, O País, p. 3

PÓS-PALOCCI

Dilma troca Ideli e Luiz Sérgio de lugar e mostra ao PT que não aceita pressões

Chico de Gois, Luiza Damé e Cristiane Jungblut

A presidente Dilma Rousseff fez ouvidos moucos à articulação do PT na Câmara - que queria emplacar o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), como substituto de Luiz Sérgio na Secretaria de Relações Institucionais (SRI) - e nomeou para o cargo Ideli Salvatti, ex-senadora, candidata derrotada ao governo de Santa Catarina e até ontem ministra da Pesca e Aquicultura. Para evitar que a estridência das reclamações dos deputados petistas atingisse um volume alto demais, Dilma convenceu Luiz Sérgio, um representante da Câmara, a aceitar o lugar de Ideli na Pesca.

Assim, a presidente encerrou a semana dando um recado claro à base: não aceita ser posta contra a parede e decide da forma que lhe convier. Na última terça-feira, Dilma já havia trocado Antonio Palocci por Gleisi Hoffmann na Casa Civil, sem consultas prévias aos aliados. O custo político desse comportamento, se houver, poderá ser avaliado nos próximos embates do governo no Congresso.

Ao enfrentar o PT, a presidente buscou se fiar no PMDB do Senado, devedor do apoio que o presidente José Sarney (PMDB-AP) e o líder do partido na Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), tiveram da então líder Ideli, quando os dois, por pouco, não perderam o cargo ou o mandato.

Desta vez, Temer foi consultado

Dilma também consultou o vice-presidente Michel Temer, corrigindo a indelicadeza que fizera no caso da escolha de Gleisi. Na ocasião, Temer foi avisado da opção de Dilma momentos antes de a presidente conversar com Gleisi. Os peemedebistas, que estiveram com Dilma ontem em seu gabinete, disseram que não tinham objeção ao nome de Ideli.

Ontem, Ideli e Luiz Sérgio apareceram para a entrevista no Palácio do Planalto de braços dados, sorrindo e tentando demonstrar que a decisão de Dilma deixou todos felizes.

Ideli disse que, em sua vida política, já executou diversas tarefas e, para cada uma, atuou de acordo com as exigências. Foi uma forma indireta de responder às críticas de que atuará para minimizar o impacto negativo no PT da Câmara, causado por sua nomeação. Conhecida por seu jeito às vezes explosivo de agir, Ideli tratou de acalmar a base aliada:

- Não sei se é a Idelizinha Paz e Amor, mas a do ouvir muito e negociar mais - disse ela, referindo-se à relação com os partidos.

A nova ministra da Secretaria de Relações Institucionais disse que a troca de pastas com Luiz Sérgio é só uma mudança de tarefas, mas não de responsabilidade, porque o governo é um só:

- Trocam as tarefas, mas não as responsabilidades. O importante é que o governo como um todo esteja em harmonia - declarou, observando que pretende atuar em conjunto com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann: - Imaginar que a Gleisi vá executar apenas tarefas de gestão é não ter conhecimento da trajetória política dela. Vamos parceirizar (sic).

Já Luiz Sérgio tratou de pôr panos quentes na disputa do PT que lhe custou o cargo. Ele afirmou que a mudança foi uma reformulação natural diante do fogo amigo. Para ele, a nomeação para o Ministério da Pesca não é um prêmio de consolação.

- A presidente, diante do que estamos assistindo, buscou uma reformulação que é natural dentro de todo governo - afirmou.

Com sua calma habitual, disse que não guarda mágoa dos que o bombardearam para lhe tirar o cargo, sobretudo os petistas da Câmara:

- Os sentimentos de mágoa e rancor não têm espaço na minha maneira de ser. É passado.

No Congresso, líderes da oposição consideraram que as mudanças de ontem refletem a total desorganização da coordenação política do governo.

- A articulação política é um desastre. O ministro (Luiz Sérgio) foi fritado por seus companheiros do PT e de outros partidos. Ele não tinha capacidade para ocupar o cargo e quem diz isso é a própria presidente - disse o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA).

- O governo Dilma vive péssimo momento. Está muito confuso - disse o senador tucano Álvaro Dias (PR).

Petistas na Câmara ensaiam trégua

Do ponto de vista do governo, com as mudanças desta semana, Dilma demonstrou força e disposição de enfrentar a fome do PT. Mas não esticou a corda até o fim com os colegas de partido, mantendo um representante da Câmara no primeiro escalão, apesar de ter ficado irritada com a queda de braço entre os petistas da Câmara.

Anteontem, no esforço de fazer o substituto de Luiz Sérgio, os petistas na Câmara, que vivem em pé de briga, se reuniram com o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), e ensaiaram uma unidade partidária. Mas a interlocutores, Dilma não ficou convencida dessa trégua.

Com sua decisão, Dilma isolou Maia, atravessado em sua garganta até hoje, depois que derrubou o candidato dela a presidente da Câmara, Vaccarezza. Agora, o líder do governo na Câmara fica onde está. E o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que Maia queria na vaga de Vaccarezza, fica sem nada. E o atual líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira, também do grupo de Maia, está enfraquecido, sendo bombardeado internamente pela própria cúpula do PT, que tem orientado outros petistas a assumirem informalmente a dianteira da liderança. Do outro lado, o PMDB deve ver confirmado o deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) como líder do governo no Congresso.

oglobo.com.br/pais