Título: Sete contra um
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 15/06/2011, O Mundo, p. 28

Pré-candidatos do Partido Republicano evitam ataques e se concentram no adversário maior: Obama

EMBATE ENTRE os representantes republicanos (a partir da esquerda): Santorum, Bachmann, Gingrich, Romney, Paul, Pawlenty e Cain

OBAMA DISCURSA na base da Guarda Aérea Nacional em San Juan, Porto Rico

Após um início arrastado e nebuloso, a corrida presidencial americana começa a adquirir contornos mais definidos no campo da oposição. Os nomes presidenciáveis do Partido Republicano aos poucos se afunilam e a disputa pela cabeça de chapa na eleição de 2012 se torna mais clara. O debate realizado no estado de New Hampshire, na segunda-feira, marcou uma nova etapa nas pretensões dos opositores a um segundo mandato do presidente Barack Obama. Os representantes republicanos evitaram críticas mútuas e concentraram sua artilharia em ataques ao governo Obama, principalmente nos temas que serão predominantes nos embates da campanha presidencial: o desempenho da economia, o elevado índice de desemprego no país e os altos gastos públicos do governo. No terreno democrata, Obama contra-atacou ontem com uma visita oficial a Porto Rico, a primeira de um líder americano em 50 anos, de olho no voto dos eleitores hispânicos em 2012.

Líder do Tea Party na Câmara surpreende

Compareceram ao palco montado no campus do St. Anselm College, nos arredores de Manchester, sete postulantes republicanos a desafiar o atual titular da Casa Branca: o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney; o ex-governador de Minnesota Tim Pawlenty, o ex-presidente da Câmara Newt Gingrich; os deputados Michele Bachmann e Ron Paul; o ex-senador Rick Santorum, e o empresário Herman Cain. Foram notadas as ausências de eventuais candidatos como a ex-governadora do Alasca Sarah Palin e o governador do Texas, Rick Perry. O ex-governador de Utah e ex-embaixador americano na China John Huntsman, considerado por muitos analistas como um nome forte na disputa, também ficou de fora do debate, mas ontem foi confirmada sua candidatura, que deverá ser anunciada oficialmente no próximo dia 21.

Para o analista político Michael Barone, os candidatos terão de demarcar suas diferenças se quiserem conquistar a investidura republicana. Na sua análise, a oposição tardou em ativar sua campanha, e novos candidatos ainda deverão surgir, mas o debate de New Hampshire foi uma amostra das capacidades e possibilidades daqueles que já estão em busca de votos nas eleições primárias, que culminarão na convenção nacional do partido em 27 de agosto do ano que vem, na Flórida.

¿ Mitt Romney teve um bom desempenho, revelou bom senso de liderança, e saiu reforçado em seus argumentos e em seu estilo. Tim Palewenty perdeu a chance, quando teve de criticar a proposta de Romney para a reforma da saúde, foi um erro de sua parte. Gingrich teve bons e maus momentos. Já Michele Bachmann se mostrou muito bem preparada, com opiniões fortes sobre a dívida do governo. Fiquei impressionado com a sua performance, ela tem chances de crescer ¿ resumiu Barone.

Na dianteira da preferência do eleitorado republicano, segundo as pesquisas de opinião, Mitt Romney, que perdeu para o senador John McCain a chance de concorrer contra Obama em 2008, escolheu um tom incisivo para procurar manter seu favoritismo.

¿ Este presidente falhou. Falhou justamente quando o povo americano contava com ele para criar empregos e impulsionar a economia. Qualquer um de nós desta bancada seria melhor presidente que Obama ¿ disparou.

A atuação firme de Michele Bachmann, líder do movimento ultraconservador Tea Party na Câmara e única mulher presente no debate, mereceu destaque positivo na imprensa americana, em comentários de analistas políticos, e também surpreendeu democratas. Para o analista Larry Sabato, da Universidade de Virgínia, Bachmann ¿foi tão boa no debate como foi ruim em sua resposta ao discurso (de Obama) do Estado da União¿, e a pré-candidata terá ainda de confirmar seu bom momento nos próximos compromissos de campanha.

Presidente corre atrás do voto latino

Com diferentes nuances, os sete republicanos condenaram a política externa de Obama, o aborto, o casamento gay, e prometeram todos os esforços para revogar a reforma da saúde implementada pelo atual governo.

Em San Juan, Barack Obama enfatizou seu apoio a um referendo para estabelecer o status da ilha de Porto Rico, em que parte da população reivindica emancipação em relação aos EUA.

¿ Quando o povo de Porto Rico tomar uma decisão clara, meu governo ficará do lado de vocês ¿ disse, sob aplausos.

Seu discurso político, segundo analistas, visava os hispânicos em geral e, especificamente, os 4,6 milhões de portorriquenhos residentes no continente americano. Para estrategistas democratas, a crescente população de portorriquenhos na Flórida será crucial para vencer a eleição num estado considerado chave no pleito presidencial.