Título: Lenda urbana
Autor: Justus, Paulo
Fonte: O Globo, 15/06/2011, Economia, p. 21
Pesquisa revela que só 4 de 75 cidades brasileiras alcançam nível médio em oferta de serviços virtuais
Os municípios brasileiros ainda têm muito a desenvolver em termos de acesso e serviços virtuais. Apenas 5,3% das cidades, ou quatro de uma amostra de 75, chegaram ao nível médio de desenvolvimento. Isso significa que possuem cobertura total para internet pública, embora tenham algumas limitações de acesso a portadores de deficiência e pessoas com menor grau de instrução. Esse é o resultado do Índice Brasil de Cidades Digitais, criado pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), entidade privada com sede em Campinas (SP), em parceria com a Momento Editorial. É uma espécie de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que, em vez de indicadores sociais, tem como foco a cidadania digital.
O cenário é preocupante, especialmente se for considerado que, entre as seis cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014 analisadas pela pesquisa, apenas três estão no nível intermediário: Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre. Em campo oposto, São Paulo, Recife e Salvador estão enquadradas na categoria "telecentro", o que significa que não têm cobertura total de acesso público à internet em território urbano e que há poucos serviços disponíveis para seus habitantes.
- O maior gargalo hoje no Brasil é a deficiência da oferta de serviços integrados aos cidadãos. Muitas prefeituras investem no aumento do acesso, com pontos sem fio gratuitos ou telecentros, mas poucas oferecem serviços com acessibilidade para deficientes físicos e pessoas menos letradas - disse Marcos de Carvalho Marques, diretor de tecnologias de serviços do CPqD.
Dados incompletos tiram Rio do ranking
As quatro cidades que encabeçam o ranking (Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Vitória) chegaram ao nível três de desenvolvimento digital, numa escala de um a seis. Quanto maior o nível, maior a qualidade e a quantidade dos serviços digitais oferecidos ao cidadão. Outras 65 cidades ficaram no nível dois, e seis não passaram do básico.
A liderança da capital mineira se deve principalmente à boa cobertura de seus 325 telecentros com 44 pontos de acesso sem fio. Essa infraestrutura se soma a serviços que vão desde o acesso do boletim escolar de uma criança matriculada na rede municipal à alteração de endereço para cobrança de IPTU. O site da prefeitura também disponibiliza consultas a processos tributários e emissões de nota fiscal eletrônica e de segunda via para arrecadação de impostos. Segundo o governo municipal, somente em fevereiro, o portal da prefeitura registrou 19 mil atendimentos.
Entre os municípios fluminenses, o mais bem colocado é Macaé, que figura em 20º lugar no ranking. A cidade, que tem um dos maiores PIB per capita do país, começou seu projeto digital no fim de 2007, caracterizado pelo investimento no acesso gratuito à internet e por melhorias na infraestrutura de Tecnologia da Informação (TI), o que inclui a administração de 22 lan houses públicas. Piraí aparece em 23º lugar, graças ao seu programa de inclusão digital lançado em 2004, que oferece acesso sem fio em praças e outros espaços públicos.
O município do Rio ficou fora do ranking porque apresentou informações parciais na fase de questionário. Além da capital fluminense, 26 cidades foram desconsideradas na pesquisa por problema semelhante.
Segundo Lia Ribeiro, diretora da Momento Editorial, as informações apresentadas em nome do Rio foram dadas por um parceiro do governo estadual em iniciativas de inclusão digital. As respostas teriam mostrado inconsistências quando foram confrontadas com dados do IBGE e da Agência Nacional de Telecomunicações.
- Se tivéssemos considerado o Rio, o município ficaria mal classificado, porque tínhamos informações parciais. Por isso, decidimos deixar a cidade fora do índice - disse Lia.
Ela lembrou que pesquisadores chegaram a procurar a Secretaria Especial de Ciência e Tecnologia da Prefeitura do Rio, mas não obtiveram respostas a tempo. O secretário, Franklin Dias, afirmou que o órgão foi informado sobre o questionário depois do início da pesquisa e alegou que, por isso, não houve tempo hábil para dar as respostas.
A capital fluminense deve integrar o ranking do ano que vem. Os autores do estudo pretendem incluir no próximo índice 300 municípios brasileiros que têm programas de inclusão digitais.