Título: Governo K ligaria verba a contrato com Mães
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 13/06/2011, O Mundo, p. 22

Segundo jornal argentino, municípios eram obrigados a fechar parceria com fundação para receber recursos

O ACÚMULO das cinzas de vulcão fechou o Passo Cardeal Antonio Samoré na fronteira entre a Argentina e o Chile

BUENOS AIRES. O escândalo do suposto desvio de dinheiro do Estado para empresas privadas envolvendo a fundação criada pelas Mães da Praça de Maio virou um verdadeiro pesadelo para a Casa Rosada, faltando poucas semanas para o anúncio da esperada candidatura à reeleição da presidente Cristina Kirchner. Segundo denúncia publicada ontem pelo jornal ¿La Nación¿, nos últimos anos o Executivo argentino obrigou governos municipais e provinciais a contratarem, sem licitação, a fundação para construir casas populares. O diário argentino divulgou informações detalhadas sobre convênios assinados pelo governo nacional e autoridades regionais, que estabeleciam a participação da fundação como condição para que os recursos para as obras fossem liberados.

Segundo governadores ouvidos pelo ¿La Nación¿, o plano já vinha pronto do Ministério do Planejamento. Um dos exemplos citados pelo jornal é um contrato de 13 de abril de 2010 entre o subsecretário de Obras Públicas, Abel Fatala, e a Corporación del Sur, órgão da cidade de Buenos Aires presidido por Humberto Schiavoni. Contrato da mesma data assinado entre Sergio Schoklender, como representante da fundação, e Schiavoni diz que ¿se impõe a obrigação por parte da secretaria de contratar de forma direta a fundação para a concordância ao financiamento da obra¿.

Desde que a primeira denúncia veio à tona, há duas semanas, o caso se tornou um dos escândalos mais delicados da gestão Kirchner, já que atinge uma das principais organizações de defesa dos direitos humanos da Argentina e da América Latina. A aliança com familiares de vítimas da ditadura é essencial na estratégia eleitoral e projeto de poder da Casa Rosada. Ontem, em coluna no diário ¿Clarín¿, a jornalista Susana Viau afirmou que ¿nunca antes uma denúncia de corrupção havia conseguido perfurar o escudo com o qual está blindada Cristina Kirchner graças à bonança econômica¿.

Dois juízes federais investigam o suposto desvio de parte dos US$191 milhões destinados pelo governo Kirchner à fundação comandada pela polêmica Hebe Bonafini que, segundo informações extra-oficiais, também recebeu ajuda econômica do governo Hugo Chávez. De acordo com informações oficiais, até março de 2012 a Casa Rosada pretendia conceder US$300 milhões à fundação, que há até pouco tempo foi representada por Schoklender, agora acusado de fraude e enriquecimento ilícito. De acordo com a oposição, a fundação construiu só 35% das casas projetadas. O governo e Bonafini colocaram toda a culpa em Schoklender, acusado pela presidente das Mães de ser um ¿traidor e fraudador¿.

Cinzas chegam à Oceania

Dezenas de voos são cancelados na região

SYDNEY e BUENOS AIRES. Depois de levar o caos ao espaço aéreo da América do Sul na semana passada, a nuvem de cinzas do vulcão chileno Puyehue-Cordón Caulle atingiu ontem Nova Zelândia e Austrália, obrigando as principais companhias aéreas dos dois países a suspenderem dezenas de voos. Só a australiana Qantas cancelou 56 partidas, inclusive todas as operações nos aeroportos de Melbourne e da cidade neozelandesa de Auckland. Já a Air New Zealand decidiu não parar seus voos, mas determinou aos seus pilotos a alteração de rotas e procedimentos, permanecendo a uma altitude abaixo de 18 mil pés (5.800 metros) para evitar as cinzas.

Enquanto isso, habitantes da cidade argentina de Villa La Angostura, na província de Neuquén, tiveram que deixar suas casas devido ao acúmulo de cinzas, que voltaram a cair com força na região. Eles foram retirados pela Defesa Civil, que também alertou outros moradores a estarem atentos para a necessidade de partir em caso de perigo. As cinzas também são a causa do bloqueio no Passo Cardeal Antonio Samoré, que liga o Chile à Argentina e que está fechado.