Título: E terá de enfrentar o PMDB
Autor: Gois, Chico de; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 09/06/2011, O País, p. 3
Peemedebistas se dizem traídos e afirmam que partido "quer e vai participar" do redesenho da articulação política
BRASÍLIA. O PMDB não aceitou, ainda, a escolha da nova ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, sem que sequer o vice-presidente da República, Michel Temer, fosse consultado. Principalmente porque, em vez de discutir a solução com seu vice, Dilma preferiu ter como conselheiro o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Temer só foi comunicado meia hora antes da demissão de Palocci. A cúpula do PMDB ameaça se rebelar, caso não tenha peso na escolha do novo articulador político, e alertou a presidente que a crise política não se encerra com a saída de Palocci, pois a articulação política do governo motiva muitas insatisfações.
A cúpula do partido remoeu o desfecho da crise Palocci até as 4h da madrugada de ontem, no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente. De volta ao Congresso, começou a mandar recados para a presidente Dilma: o PMDB não quer o cargo do ministro das Relações Institucionais, hoje nas mãos do petista Luiz Sérgio, mas quer avalizar e ter peso no redesenho da articulação política.
Presentes à reunião no Jaburu, que serviu ainda para bombardear a personalidade da ministra Gleisi, estavam o presidente do Senado, José Sarney (AP); o deputado Eduardo Cunha (RJ); o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN); o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR); o senador Eunício Oliveira (CE); o líder do Senado, Renan Calheiros (AL); o senador Vital do Rego (PB); o presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO); e o diretor da CEF Geddel Vieira Lima (BA).
- Ela (a presidente Dilma) não pense que vai fazer com a vaga do Luiz Sérgio o mesmo que fez com a do Palocci! Se fizer isso, o PMDB não articula mais nada no Congresso. O PMDB não quer a vaga do Luiz Sérgio, mas quer avalizar a escolha - disse um dos participantes da reunião.
- O PMDB foi traído! Não se pode avisar o vice da escolha de um novo ministro meia hora antes da demissão. O PMDB passou o dia defendendo e dando apoio a Palocci, e o PT detonando - disse outro peemedebista.
Na avaliação, os peemedebistas concluíram que começa nova fase do governo Dilma, e que a crise na base aliada e no Congresso não se resume ao escândalo Palocci, pois foi agravada pelas falhas na articulação.
- Foi uma trapalhada. A crise é muito maior que o Palocci. É isso que a Dilma tem que entender. E a Gleisi é arrogante, como Dilma. Não cabem os dois egos na mesma sala - criticou um peemedebista durante a reunião.
No relato que fez aos colegas, Temer contou que, pouco antes de Palocci entregar a carta de demissão, teve rápida conversa com Dilma:
- Ela disse que a nova ministra será uma "Dilma da Dilma" e vai ter o papel de desafogar o meu trabalho.
Renan mandou um recado:
- É hora de fazer um redesenho da articulação política do governo. E o PMDB quer e vai participar.
Na avaliação de Sarney, a saída de Palocci deverá provocar mudanças significativas no governo:
- Ninguém pode desconhecer que a figura do ministro Palocci tinha certa predominância. Agora, ela (Dilma) vai estabelecer um novo tipo de governar e um novo desenho do governo.
Já ciente da insatisfação do PMDB e do seu vice, a presidente Dilma tentou fazer um agrado a Temer, ontem, ao designá-lo como coordenador do Plano de Proteção às Fronteiras.
Temer já assegurou:
- O PMDB não quer a articulação política. Isso é com o PT.
COLABOROU: Luiza Damé