Título: Aplaudido, Palocci diz que sai para ajudar governo a preservar o diálogo
Autor: Damé, Luiza; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 09/06/2011, O País, p. 4

Ex-ministro admite que crise prejudicou a sua atuação na Casa Civil

BRASÍLIA. Em sua despedida do Palácio do Planalto, a segunda desde a chegada do PT ao governo, o ex-ministro Antonio Palocci disse que suas atividades foram prejudicadas pelo ambiente político e que deixa o governo para preservar o diálogo. Num discurso cheio de citações poéticas, afirmou que sai com paz de espírito e de cabeça erguida, especialmente depois que a Procuradoria Geral da República (PGR) arquivou as representações da oposição questionando a evolução de seu patrimônio nos últimos quatro anos. Disse ainda não se abater com as pedras do caminho.

- Se eu vim para ajudar a promover o diálogo, saio agora para ajudar a preservá-lo - afirmou o ex-ministro, que foi aplaudido durante a cerimônia de posse da sua sucessora, Gleisi Hoffmann.

Os convidados se levantaram quando ele foi anunciado. Palocci disse que, como libriano, tinha a função de construir pontes sobre águas turbulentas. Segundo ele, foi com esse objetivo que participou das campanhas de Lula em 2002 e de Dilma:

- Construir pontes significa para mim manter canais permanentes de um rico debate de ideias franco e respeitoso, significa respeitar o contraditório, ouvir mais do que falar, trabalhar mais do que se manifestar. É um trabalho essencial ao país e a qualquer governo construir um ambiente político equilibrado, justo e racional. O diálogo é a viga mestra para a formação dos consensos que fazem e farão o Brasil avançar mais. Como escreveu Machado de Assis: "o esperado nos mantém fortes, firmes e em pé; o inesperado nos torna frágeis e propõe recomeços".

Segundo Palocci, a crise política provocada pelas denúncias contra ele - que se arrastava desde o dia 15 de maio, quando a "Folha de S. Paulo" divulgou a evolução substancial de seu patrimônio - não paralisou o governo, mas já prejudicava sua atuação na Casa Civil. Ele ficou sem sustentação política mesmo depois da decisão da PGR, que não identificou ilegalidade na evolução de seu patrimônio.

- O mundo jurídico não trabalha no mesmo diapasão do mundo político. Ficar no governo, com a permanência do embate político, não permitiria que eu desempenhasse normalmente minhas funções na Casa Civil. Nos últimos dias, as atividades do governo transcorreram com toda a normalidade, mas minhas atividades foram progressivamente comprometidas pelo ambiente político.

Palocci afirmou que a PGR confirmou que seu trabalho como consultor, entre 2006 e 2010, seguiu padrões éticos e legais, como ele próprio dizia:

- Trabalhei dentro da mais estrita legalidade, respeitando rigorosamente os padrões éticos que se impõem aos homens públicos.

O ex-ministro abriu o discurso dirigindo-se à presidente Dilma Rousseff: disse que não gostaria de transformar sua despedida em um momento triste. Mais tarde, em entrevista, Palocci afirmou que deixa o governo sem mágoas ou ressentimentos:

- A vida é uma luta permanente e não costumo me abater pelas pedras no caminho. Até porque fomos avisados pelo poeta: havia e haverá sempre pedras na nossa caminhada.

Dirigindo-se a Dilma, Palocci agradeceu a oportunidade de servir ao seu governo e ao país. E desejou os "sinceros votos de boa sorte" à sucessora e encerrou o discurso prometendo ser leal à presidente:

- Seguirei sendo leal à senhora e ao meu país. Levo deste período apenas as boas lembranças. Saio com paz de espírito, de cabeça erguida, honrando o meu trabalho, a minha família e os meus companheiros.