Título: Conflito de terra pode ter motivado morte no CE
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 09/06/2011, O País, p. 15
Polícia investiga se assassinato de agricultor está ligado a disputa por terra; vítima foi executada com tiros na cabeça
RECIFE. O agricultor José Alencar de Oliveira, de 43 anos, foi executado em frente a sua casa, em Limoeiro do Norte, cidade a 208 quilômetros de Fortaleza. O assassinato ocorreu na última terça-feira e, até a tarde de ontem, não havia a confirmação se o crime envolveu questões agrárias. A região tem sido palco de desentendimentos entre pequenos produtores rurais e grandes empresas, que se instalaram no local atraídas por projetos públicos de irrigação.
O delegado de Limoeiro, José Fernandes, começou ontem a ouvir testemunhas. Segundo a Federação dos Trabalhadores de Agricultura do Ceará e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), no mesmo local do crime foi morto no ano passado o líder comunitário José Maria Filho, o Zé Maria do Tomé, que liderava no município uma luta contra o uso de agrotóxicos lançados de aviões. Ele culpava empresas pela poluição de rios e vilarejos em função da contaminação do ar.
Vítima foi morta com tiros na cabeça e no peito
José Alencar foi abordado por dois homens numa moto quando chegava em casa. A dupla disparou vários tiros. Quando o agricultor caiu no chão, o carona da moto acertou tiros na cabeça da vítima, que já estava ferida no peito. De acordo com o coordenador da CPT na Diocese de Limoeiro do Norte, padre Marcos Augusto Brito Mendes, esse tipo de execução está se tornando comum no interior do Ceará, principalmente tendo como alvo pessoas ligadas ao tráfico de drogas.
No ano passado, Zé Maria do Tomé foi morto após liderar campanha pedindo o fim do uso de aviões na aplicação de veneno agrícola. A proposta virou lei municipal - que cairia meses depois. Ele foi assassinado antes de a lei ser sancionada. Zé Maria foi morto com 19 tiros e o seu nome consta como a única vítima de conflitos de terra no Ceará ocorridos no ano passado. De acordo com padre Mendes, a Câmara extinguiu a lei um ano após a morte do lavrador.
Moradores de Limoeiro do Norte disseram que José Alencar não teria ligação com movimentos de luta pela terra. A polícia informou que nos últimos meses ele passou a vender carros usados. À noite, o delegado do município promoveu diligências em busca de testemunhas do crime.